Heis aí o tema mais ansiado pelos médiuns novos. Que diabos é isso de
mediunidade? Por que meu corpo treme todo, ou eu fico com mal estar, ou meu
corpo se mexe, minha boca brada, mas eu vejo tudo, ouço tudo, e sinto como se
estivesse ficando louco? Como é que funciona essa coisa de um espírito
incorporar em mim? São muitas dúvidas, muitas angústias, e normalmente pouca
orientação. Então, vamos nos esforçar para passar toda a orientação e ir aos
poucos, dirimindo suas dúvidas.
Claro que Mediunidade é um assunto complexo demais para ser totalmente
destrinchado em uma única postagem. Então, hoje nos limitaremos a registrar
apenas um breve resumo dos tópicos a seguir.
ANIMISMO
Ocorre quando a sintonia Guia/Médium não é firme, e a manifestação
possui mais do médium do que do Guia. Em alguns casos, não há nada do Guia,
somente a manifestação do próprio médium. Porém, essa manifestação ocorre de
forma involuntária, não proposital. Comumente ocorre quando os médiuns ainda
não estão familiarizados com a real vibração do seu Guia.
MISTIFICAÇÃO
Ocorre quando o médium tenta de forma consciente e voluntária encenar a
manifestação do seu Guia, com interesses mesquinhos. Médiuns com interesse de
se exaltar pela manifestação de seus Guias, ou que tem interesse em se
aproveitar de situações diversas, usando o nome de seus Guias. Deve-se tomar
muito cuidado com esse tipo de práticas, pois estas afastam os Guias da Coroa
do médium, que fica vulnerável à ação de kiumbas, e acaba perdendo o amparo dos
seus Guias nos momentos em que mais precisa.
MEDIUNIDADE
INCONSCIENTE, SEMI CONSCIENTE E CONSCIENTE.
Acredito que o significado dispense comentários. Mas, vamos comentar.
Mediunidade
inconsciente – médium não lembra de nada.
Mediunidade
semi consciente – médium ouve e vê tudo, mas quando o Guia vai embora, as
informações se embaralham...muito se perde e médium lembra de flashes, de casos
específicos.
Mediunidade
Consciente – Médium ouve tudo, vê tudo, e quando retorna, lembra de tudo.
Assunto delicado, que hoje mexe até no ego da maioria dos médiuns.
Muitos não admitem sua consciência, e os que se arriscam em admitir, sofrem de
angústias agudas com a experiência. Fazendo estudos sobre o tema, podemos
entender que a inconsciência era um recurso muito usado pelo Espiritual no
início da nossa Religião, devido às resistências morais dos médiuns da época.
Quem, em 1908, na sua maior idade, iria se sentir à vontade para manifestar um
espírito de uma criança, rolar no chão, comer com a mão....? Era caso de
necessidade para a estruturação da Religião no seu início. Por isso,
extremamente comum. Hoje em dia, a realidade da Umbanda é outra. Depois de mais
de cem anos de chão, vários congressos, diversas linhas de pensamento,
surgimento da tentativa de unificação, pelo menos da unificação da resistência
ao preconceito, médiuns que se aventuraram em falar em público sobre o que é
Umbanda, livros e mais livros escritos sobre o assunto, o nosso contexto
precisou mudar. Hoje, a Espiritualidade tem diversos motivos para aceitar e
utilizar a mediunidade consciente em seus trabalhos. Aqui vão alguns exemplos:
- Consulente
passa por problemas semelhantes dos do médium, seu Guia exorta e orienta o
consulente e o médium ao mesmo tempo.
- Guia em
consulta com consulentes mal intencionados, mantém a consciência do médium para
o deixar alerta com certas orientações.
- Guia vai
deixar um recado para seu aparelho, mas o cambono é iniciante e distorce o
recado todo, e o Guia utiliza da mediunidade consciente do médium para que ele
lembre exatamente do seu recado.
Entendendo a mediunidade como o acoplamento energético entre o Guia e
pontos de força dos médiuns, entendemos também que o Guia se conecta aos pontos
necessários para os trabalhos que desempenha, podendo, por exemplo, Iansã
baixar de joelhos e permanecer de joelhos até a sua subida, caso haja a
necessidade. Ora, se isso é possível, o Guia pode controlar conforme sua
vontade o ponto de força da consciência do seu instrumento, deixando-o aberto,
semi aberto ou fechado. Contudo, esse controle depende do desenvolvimento do
médium. (parábola do Carro).
Hoje em dia, nosso nível de consciência é bem maior, tanto dos
fundamentos da própria Umbanda, quanto dos ensinamentos e vivências
espirituais. Hoje, TODOS os médiuns têm participação indireta na manifestação
do seu Guia. Nossa participação é com o nosso nível de conhecimento, nossos
estudos, nosso aprimoramento energético e moral. Hoje, nós é que temos que
cuidar da energia do nosso corpo, dos nossos pensamentos, dos nossos
sentimentos, para que os Guias atuem através de nós. Nós temos que nos
doutrinar com conceitos e fundamentos, para que os Guias encontrem instrumentos
bem afinados.
Como exemplo, podemos citar os Exus. Hoje entendemos que eles são
Guardiões e trabalham para a Luz. Mas nem sempre foi assim...Não com os Exus,
mas com os médiuns. Até hoje, infelizmente, tem gente que acha que Exu é mal,
aproveitador, perigoso, capaz de prejudicar alguém se não tiver seus desejos
atendidos. E quando um ser humano desses entrega a sua cabeça para a
manifestação de um Exu, esta manifestação SEMPRE vem bagunçada com esses
pensamentos, e MUITO PROVAVELMENTE teremos a manifestação de um Exu mal,
perverso, chantagista, etc. Nosso esforço hoje é ORIENTAR que ISSO NUNCA FOI
VERDADE. Exu sempre foi guardião. Tudo o que ele utiliza serve para manutenção
do seu próprio trabalho de proteção e amparo nos caminhos do seu médium.
Claro que existem vários Exus que não trabalham dessa forma. Isso se dá
tanto pelo desequilíbrio do próprio médium quanto da “viciação” deste Exu. E
como resolver? Doutrinando o Exu e o médium, pra que eles entendam sua real
posição na nossa Corrente. Com o conhecimento, vemos manifestações de Exus
passando por verdadeiras transformações, porque tanto o Guia quanto o médium se
transformaram...transformaram sua forma de pensar e agir no mundo. E isso
ocorre independente do tipo de mediunidade.
Uma forma interessante de pensarmos na dinâmica mediúnica é a Parábola
do Café com Leite, onde o médium seria o café, e o Guia seria o leite. Aquilo
que chamamos de manifestação espiritual seria SEMPRE um café com leite, pois
sempre teremos a parte do Café (corpo do médium, seu conhecimento prévio, seu
subconsciente) e o Leite (influência, intuição, vinda da parte do Guia). Da
mesma forma que ao misturar o café e o leite a gente forma uma terceira bebida,
que não é nem café nem leite, mas café-com-leite...algo novo, onde não
conseguimos ver nem o leite e nem o café em separado. Uma vez café com leite,
sempre café com leite. E então, se aquilo que chamamos de manifestação é uma
mistura minha com o meu Guia, como eu posso me desenvolver? Boa pergunta. A
questão é que, da mesma forma que a gente pode controlar a quantidade de leite
ou de café do nosso café-com-leite, podemos e DEVEMOS sempre nos esforçar para
que o nosso café-com-leite tenha cada vez mais leite, que ele seja cada vez
mais clarinho. Entendam, mesmo bem clarinho, ainda assim será café com leite,
da mesma forma que uma xícara cheia de café com um pouco de leite também é
café-com-leite...Mas o nosso esforço deve ser sempre para que nosso café com
leites seja o mais claro possível, com a maior quantidade possível de leite, ou
seja, a menor interferência possível da nossa parte.
Hoje, a quantidade de médiuns inconscientes é bem menor em comparação
com médiuns consciente e semi conscientes. Mas não existe favoritismo
espiritual com relação ao tipo de mediunidade. Cada uma delas apresenta
benefícios e riscos para os médiuns e para o seu trabalho espiritual. Sobre
isso, transcrevo um trecho do blog https://casadopaibenedito.wordpress.com,
sobre o desenvolvimento mediúnico:
“O que são
mediunidades consciente e inconsciente?
Mediunidade inconsciente (...). Sua principal vantagem é que,
estando “adormecido” o médium não oferece muita resistência ou interferência
nas manifestações do espírito guia. Uma desvantagem é que, se tomados por
espíritos desordeiros, podem executar tarefas torpes sem que percebam isso com
clareza. São médiuns cada vez mais raros.
Mediunidade consciente, ou semiconsciente, (...). Uma vantagem é
que, se forem bem preparados, eles se mantém alerta à interferência de
espíritos desordeiros caso isso ocorra, impedindo sua ação negativa. Uma
desvantagem é que, estando mal preparados, eles interferem na manifestação das entidades
de luz. Bloqueiam seus comandos e, por vezes, até assumem a condução do
trabalho, o que é muito perigoso.”
Ou seja, nossa preocupação não deve ser se eu me lembro ou não do que
meu caboclo fez no meu corpo, se ele está bradando certo, se minha Beijada é
engraçada o suficiente, se meu preto velho fala em “pretovelhês” o suficiente
para ser levado a sério....Mas devemos nos preocupar com o real motivo de
estarmos aqui. Se estamos nos entregando por completo. Se estamos dispostos a
enfrentar o Oxe de Xangô, e não se ele está bradando forte ou batendo com o
nosso joelho no chão forte o suficiente. Se estamos realmente nos lavando nas
águas de Oxum buscando o nosso equilíbrio emocional, e não se ela está
dançando, cantando ou chorando no nosso corpo. Estamos aqui para vibrar com
Ogum e nos sentirmos fortes e destemidos, certos de que nossos caminhos serão
abertos, ou se ainda nem sabemos qual a linha do nosso Ogum mas manifestamos
ele como Ogum cruzado, porque sua manifestação é linda naquele outro médium, os
pontos cantados são fortes e sua história alimenta meu ago (ah, se soubessem o
peso de se carregar um Ogum cruzado...). Será que buscamos a consciência e o
equilíbrio de Iemanjá ou apenas o balançar do nosso corpo quando cantamos pra
ela porque se eu tenho Iemanjá ela tem que baixar na Terra para eu parecer um
bom médium... E por aí vamos.
O bom desenvolvimento depende muito mais do quanto o médium se cala,
cala seu ego, conversa com aqueles que regem a sua Coroa e se abre para o novo.
Ninguém pisa na Umbanda ganhando um livrinho com todas as informações sobre
seus Guias, seus Orixás, suas manifestações, pontos cantados e riscados, forma
de trabalho, forma de falar, de dobrar a perna, sacudir o braço, estalar os
dedos... No início, tudo SEMPRE é novo, e precisa ser. Essa descoberta é
extremamente rica para o médium, e tentar acelerar este processo pode trazer
graves danos a longo prazo.
REGRAS DA CASA
QUANTO A MANIFESTAÇÃO ESPIRITUAL.
Independente da habilidade de vidência da Direção Espiritual do TUBA,
existem regras que norteiam todos os médiuns da Casa.
Sempre observamos todas as manifestações de todos os médiuns em
desenvolvimento. Independente do tempo de vivência na Umbanda, todos que não
têm Ori Obi são médiuns em desenvolvimento. Com o Ori Obi, o desenvolvimento
continua, mas o médium se torna médium de trabalho. A doutrina é sempre
constante, tanto pros médiuns quanto pros Guias.
Contudo, sempre observamos a forma, a intensidade e os efeitos de todas
as manifestações, principalmente dos médiuns em desenvolvimento que são
iniciantes na Umbanda. Acredito que tudo tem fundamento, e as manifestações
idênticas não fazem sentido, sem que tenham um bom fundamento para acontecerem.
Entendo que existam semelhanças de manifestação em Guias da mesma linha. Mas
manifestações idênticas espontâneas não fazem sentido porque, mesmo da mesma
linha, estamos falando de Espíritos diferentes. Então, cada um traz sua
particularidade para a manifestação.
Todos os médiuns em desenvolvimento devem estar abertos no momento do
desenvolvimento, ou nas Obrigações, para a manifestação dos seus
Guias/Falangeiros. Essas manifestações são fundamentais para o estreitamento do
laço feito entre médium e Guia, fundamental para o bom desenvolvimento deste
médium. Quanto mais intimidade com as vibrações dos seus Guias, mais firmeza se
conquista, e melhor se encaminha o seu desenvolvimento espiritual.
Contudo, médiuns sem Ori Obi NÃO TEM PERMISSÃO PARA
DAR CONSULTA, DAR PASSE, FAZER PUXADA, PASSAR TRABALHO, SALVO COM PERMISSÃO DA
DIREÇÃO ESPIRITUAL OU DOS SEUS GUIAS MANIFESTOS NO MOMENTO. O processo de
sintonia é algo sério e trabalhoso, que se constrói com o tempo, e quem
determina se o tempo de firmeza chegou são os Guias Chefes da Casa.
Claro que os Guias de Trabalho têm suas capacidades de trabalhar, suas
habilidades específicas, e sempre respeitaremos os trabalhos. Contudo, a
responsabilidade com o “instrumento” é nossa. E os instrumentos sem o Ori Obi
não tem permissão para trabalhar, sem um consentimento direto da Direção do
TUBA. Isso não impede que os Guias trabalhem para os seus próprios médiuns. Na
verdade, eu penso que antes de recorrer aos Guias do Dirigente, o médium deve
recorrer aos seus próprios Guias. A função do Pai de Santo seria orientar nessa
caminhada, mas o amparo e a proteção primeira deve ser da própria Coroa do
médium.
Ainda tem muito o que se falar sobre mediunidade. É um processo
complexo, que nos exige alguns cuidados, algumas manutenções, mas certamente
vamos retomar esses assuntos várias outras vezes. O importante é entendermos
que estamos aqui, vestindo branco na Umbanda, para aprendermos sempre. NUNCA
saberemos tudo. Nossa busca por conhecimento deve ser constante, e os melhores
professores sempre serão nossos Mentores. Que a gente tenha olhos de ver e
ouvidos de ouvir, sempre.
Saravá!
Pai Eduardo Salles
Pai Eduardo Salles