quinta-feira, 5 de abril de 2018

Você não é Insubstituível!


Salve salve!!!

             Venho trazer um recado trazido nesta madrugada, ditado para a nossa Mãe de Santo pelo nosso querido Boiadeiro Navizala.



          A Egrégora está dentro de nós e sobre nós! Cada médium representa um elo de uma grande Corrente; a intenção da casa de Benedito não é padronizar os elos e sim ter elos firmes. Quando um elo por si só se rompe, ele passa pela decisão de se remendar ou de não mais fazer parte dessa Corrente! Sim, filhos, é opcional!
          Sobre o Terreiro, existe uma Egrégora formada por essa junção de intenções que cada elo produz. Se todos vibram em uma boa sintonia, é como se comparássemos a uma boa música...é prazeroso de se ouvir e sentir!
          Agora se temos uma Egrégora com variações de intenção, é como se ouvíssemos uma rádio com interferência na transmissão. Este “chiado” seria exatamente as intenções contrárias.
          Justamente por prezar por “um som em harmonia”, Pai Benedito não tem receio em remover elos rompidos, paralizados pela vaidade e omissão! Aos médiuns, saibam que vocês são seres de extrema importância! Se você chegou a se vincular a Corrente Espiritual de um Terreiro, saiba que você tem um papel muito importante neste lugar e seu papel é servir! Servir de instrumento de Caridade para o próximo!
Mas médium, você de forma alguma é insubstituível! Não importa quantos anos você tem de trajeto espiritual, o Terreiro não irá deixar de funcionar se você não estiver lá. Não importa o quanto você é participativo financeiramente; o Axé não se compra...na sua ausência, ainda funcionaremos.
Ou seja, você é substituível!
Filtre seus pensamentos negativos, filtre a fofoca, mentira, inveja, e o principal: o ego! Ao chegar no Terreiro, se dispa de todo o seu status, diploma, pompas...entre apenas com um coração aberto a servir e se permita transbordar de bons fluidos. Seja contaminado pela alegria e humildade.
A Umbanda é amor, fé e caridade. Não necessitamos das melhores roupas, tão pouco das melhores bebidas e fumos. Nossa maior necessidade são que nossos instrumentos estejam com o corpo e o coração limpos.
Não cabe praticar a Caridade apenas dentro do Terreiro; leve-a para dentro de casa, do trabalho...a caridade é levar amor ao próximo, é fazer pelos outros e pelos seus o melhor sem esperar nada em troca. Afinal, a Caridade é voluntária.
Pense Nisso.
Boiadeiro Navizala.


Texto auto explicativo. Saravá.
Pai Eduardo Salles

terça-feira, 27 de março de 2018

Aprendi a Amar

Um dia desses sentada com Pai Benedito de Aruanda, estávamos falando sobre as dificuldades de um Pai e Mãe no Santo.
Parecia que todas aquelas palavras abraçavam meu coração, que velho sábio!!

Logo após fui conversar com uma mãe no santo que já tinha 95 anos com Pelo menos 60 anos de umbanda,ela se referia a função de mãe de santo como babá de orixá. Dona Lindalva era lúcida não parecia ter quase um século na terra.
Ela contou para nós seus relatos nessa caminhada, e confesso que por ironia do destino ela falou muito sobre ingratidão.

Após essas informações toda, eu parei para pensar o quanto que já sofri e sofro com a ingratidão e o quanto fui uma filha ingrata.
Benedito dizia: vão falar de você,seja você boa ou ruim, vão dizer coisas que você nao faz,dentro e fora de um terreiro.

Vão lhe dar abraço fraternos de puro amor,mas quando você der as costas tornarão a falar mal de você, e isso vai doer,Deus não dá fardos que não podemos carregar, mas ele também não dá os mais leves. Vão revirar os seus bolsos e você só será útil enquanto tiver algo para oferecer que seja benefícios para os próprios,quando suas pernas fraquejar você não será tão útil mais, e tornarão a falar mal de você,e buscarão outro terreiro é só irão falar de seus defeitos!

Mãe Dalva: tive mais de 50 anos de terreiro,tive muitos filhos de santo,mas a meses estou mal e me questiono, cadê alguém para me ajudar? Eu já não tinha mais forças, então ontem me batizei na igreja universal e a menina cuidou muito bem de mim.

Eu não tive uma mãe de santo presente em minha caminhada,quando entrei pro terreiro logo após ela sofreu um AVC,ao retornar tinha limitações, e outras pessoas estavam "no comando" confesso que murmurei muitas vezes e pensei em desistir.
Mas ainda assim o axé dela manteve aquela casa aberta, e gratidão por isso,ela carregava olhos de cuidado para mim.

Baseado na minha experiência com minha mãe de santo, busquei tudo aquilo que não tive naqueles momentos e decidi me disponibilizar aos meus filhos,cuidar,ser presente, doutrinária, educadora e motivadora.

Ser mãe de santo é um caminho árduo,confesso que não imaginava que era assim! É perder noites de sono buscando soluções junto ao espiritual para os problemas dos filhos,e eles ainda assim acharem que você não está se preocupando ou que você só tem ele pra olhar.
Ser mãe de santo é lutar todos os dias para mostrar pro seu filho que a umbanda não é uma moeda de troca e nem um comércio de fé.
Ser mãe de santo é proteger seus filhos,seu terreiro,seus consulentes,contra a maldade do mundo daqueles que usam de sua prepotência para fazer o mal, e muita das vezes absorve essa carga para si! Mas não podemos fraquejar,pestanejar, tão pouco pensar em desistir.

Mas poucos se esquecem que apesar de sermos preparados para essa caminhada,somos médiuns como outros médiuns,apenas carrego no peito um coração para abraçar todos como um filho consangüíneo.
E dou as costas para que bata em mim,punhais, ingratidões que não quero que caia sobre meus filhos.
Mas ainda sim,quando me perguntam se eu gosto de ser mãe de santo, minha resposta é eu aprendi a amar cuidar de gente, orientar, educar, abdicar do meu tempo de qualidade para oferecer uma mão de afago a alguém.
Além disso sou privilegiada,meu irmão mais velho caminha ao meu lado,meu esposo,e Pai de santo junto comigo na casa de Benedito.
Já o vi sem dormir,preocupado,virando noites montando apostila,deixando de ter vida social para estar no terreiro, confesso que já me estressei muito (rsrsrs) mas hoje eu tenho orgulho de caminhar ao lado dele.
Eu tenho orgulho da mão que passou sobre minha cabeça! Que oxalá guarde minha mãe de santo
Tenho orgulho do meu pai que me libertou ( salve a força de águia negra)
Tenho orgulho do meu irmão que me orientou a todo tempo,que me deu força para perseverar. (Salve a força de Pai Eduardo)
Tenho orgulho dos meus filhos (Salve a coroa de cada um deles)
E sim, eu tenho orgulho do axé que carrego!

Saravá!

Mãe Nathalia Salles

segunda-feira, 26 de março de 2018

Quaresma e Semana Santa


     Salve, povo de Oxalá!

     Hoje vamos falar sobre Quaresma.

     Temos recebido várias indagações sobre a Quaresma na Umbanda. Existe uma variedade de interpretações sobre esta prática nos Terreiros, e estas interpretações ficam a critério das doutrinas de cada Casa. Primeiro, vamos entender o que significa Quaresma.

O que é a Quaresma?


     O Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica, a Ortodoxa, a Anglicana, a Luterana.

      A expressão Quaresma é originária do latim, quadragesima dies (quadragésimo dia). O adjetivo referente a este período é dito quaresmal ou, mais raro, quadragesimal[6].

    Em diversas denominações cristãs, o Ciclo Pascal compreende três tempos: preparação, celebração e prolongamento. A Quaresma insere-se no período de preparação.

     Os serviços religiosos desse tempo intentam a preparação da comunidade de fiéis para a celebração da festa pascal, que comemora a ressurreição e a vitória de Cristo depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrados nos Evangelhos.

     Esta preparação é feita por meio de jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.

     A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.


     Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.



     Ou seja, a Quaresma é uma preparação para a Semana Santa, praticada em algumas doutrinas Cristãs, fundamentalmente pela Igreja Católica. Mas, e na Umbanda, como funciona?

     Algumas Casas, as mais ligadas às práticas católicas entendem a Quaresma como um momento de reflexão; outras entendem que este é o momento em que o Espiritual avalia o desenvolvimento e o merecimento dos médiuns da Corrente, e por isso cumprem este recesso; A Tenda de Benedito entende que o Terreiro funciona como um Hospital Espiritual, e é inviável que se pare um Hospital por tanto tempo. Apesar de recebermos fortes influências do Catolicismo, fundamentamos a nossa doutrina na prática, e na prática, as pessoas precisam de amparo a todo tempo, inclusive na Quaresma. Médiuns e Assistência encontram-se em tratamentos que, se interrompidos por quarenta dias, podem trazer alguns efeitos danosos, e dobraria o trabalho dos Sacerdotes e Mentores da nossa Casa. Eu fui feito numa Casa que tinha esta orientação doutrinária e vivi estes efeitos na pele, tanto como médium em desenvolvimento, quanto como Pai Pequeno.

     Mas e as reflexões que a Quaresma nos propõe? Eu parto do pressuposto que são reflexões que temos que fazer constantemente, e não em períodos específicos.Na nossa Casa, direcionamos estas reflexões na Semana Santa. Afinal não é válido abraçar uma doutrina pela metade; como falar de quaresma sem falar de jejum, de períodos de prece, sem freqüência nas missas? Entendo que, como uma Tenda de Umbanda, devemos focar nossas doutrinas nos fundamentos de Umbanda, e os ensinamentos de Cristo devem ser abraçados nas nossas práticas, de forma constante e por tempo indeterminado. Mas claro que isso não nos exime do dever de respeitar a orientação doutrinária das Casas que cumprem este recesso. Cada Casa tem a sua orientação física e espiritual e todos nós temos a obrigação de respeitar.


SEMANA SANTA

     Ora, se não temos a prática da Quaresma, por que paramos na Semana Santa?

     Nós entendemos a Semana Santa com um simbolismo mais específico, que acrescenta a nós uma reflexão mais profunda e mais ligada a Cristo. A Semana Santa nos traz o sentido de Morte e Ressurreição de Cristo; nos ensina que o Homem que foi recebido como Rei em Jerusalém foi levado à morte pelos seus “súditos”. Este foi o momento em que o Homem Perfeito, Filho de Deus na Terra, temeu a morte já anunciada, mas ainda assim confiou na sua missão, se entregou à cruz e venceu a morte! A Semana Santa nos ensinou que o perdão é sempre válido, em todas as circunstâncias. Cristo foi traído pelos que os seguiam, foi negado três vezes pelo discípulo que afirmou ir com ele para a cruz, recebeu a pior punição na época, foi crucificado junto com ladrões, e perdoou tudo. Perdoou seus discípulos, o povo pra quem Ele foi enviado, perdoou até um dos ladrões, que havia se arrependido! Cristo nos ensina a transitoriedade da morte e da vida, o sentido constante de se morrer e nascer. Claro que Cristo, na magnitude do seu Espírito, nos ensina em alto estilo, através da ressurreição! Mas nos ensina que, quando morremos para o homem velho, o homem novo ressurge melhor, mais leve. Quando morremos para o nosso ego, para a nossa raiva, para os impulsos negativos da vida, renascemos mais iluminados. Olha quanta reflexão a Semana Santa nos traz!

     Entendo que uma semana para nos retirarmos da nossa rotina espiritual e refletirmos sobre tudo isso, junto com a nossa família, é fundamental. Como uma Tenda Cristã, o respeito ao simbolismo da morte e ressurreição de Cristo é imprescindível.

     Neste momento, fortalecemos o nosso Espiritual em Oxalá, nos sintonizamos com a energia da Fé que Oxalá nos irradia e refletimos sobre a nossa vida; sobre o que precisa morrer e renascer melhor em nós.

     Este é o sentido da Semana Santa para nós. Que cada um possa se propor a estas reflexões, e que possamos voltar da Páscoa um pouco melhores, mais leves...que a gente consiga entregar a Oxalá o que precisa morrer em nós, para que Ele nos faça renascer.

     Oxalá nos abençoe.

     Pai Eduardo Salles



segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O que a Umbanda tem a oferecer?

Salve, meu povo!

E lá vamos nós para a nossa primeira dinâmica do ano: O que a Umbanda tem a oferecer?

Este é o terceiro texto que eu escrevo sobre este tema. Os outros dois foram miraculosamente apagados, contrariando a habilidade deste blog de salvar tudo automaticamente nos rascunhos. Tem sido difícil colocar em palavras a contradição entre o pouco que eu recebi de resposta com esta dinâmica (menos de um terço da Corrente) e a realidade com a qual tenho me deparado neste quase um ano de funcionamento ininterrupto da Tenda de Benedito.

Primeiro, a nossa realidade: pensamentos egoístas, competições desnecessárias, posturas físicas e espirituais incoerentes com os nossos fundamento, exagero, desejos incabidos, e por aí vamos. São diversas demandas com as quais temos que lidar como sacerdotes e que certamente não são exclusividade da nossa Tenda. Temos aprendido muito com tudo isso.

Mas então... O que a Umbanda tem a nos oferecer?

Aparentemente, vendo a postura da maioria das pessoas ao se depararem com o Terreiro, nos parece que na cabeça dessas pessoas, a Umbanda tem a nos oferecer a solução de todos os nossos problemas. Me parece que são responsabilidades da Umbanda: caminhos abertos, pra que eu enriqueça rápido; cura imediata das minhas doenças físicas; plenitude imediata nos meus relacionamentos; saltos espirituais gigantescos; vamos parar na superfície. Não vale a pena aprofundar. Como sacerdote, tenho visto posturas que indicam serem esses os anseios de tantas pessoas que cruzam as portas da nossa Tenda, tanto a nossa assistência quanto muitos dos nossos médiuns. Se esquecem que são parte ativa no processo de conquista de tudo isso citado aí em cima. Ou seja, pra que eu tenha caminhos abertos, eu preciso me esforçar, arregaçar as mangas e ir pra luta, e principalmente aniquilar as posturas que mantém meus caminhos fechados... E mesmo assim, enriquecer nunca será por um passo dado no Espiritual; para que eu atinja a cura das minhas doenças, eu preciso me tratar, oras. Seja num tratamento espiritual, caso minha doença tenha cunho espiritual, ou num médico, caso seja uma doença física. Mas em ambos os casos, ainda assim eu teria que ter algumas mudanças de postura; plenitude no relacionamento é algo que se constrói com muito esforço, alguma renúncia e muito respeito. O Espiritual não faz por você o que cabe a você fazer; sobre os saltos espirituais, um segredo: mediunidade é carma! Ninguém recebe o anúncio de médium e deve esperar se tornar o próximo
David Copperfield da Umbanda! Ser médium não é fácil muitas vezes, principalmente no início do desenvolvimento mediúnico. Aprender a lidar com um sentido novo, que muitas vezes não interage com os demais que a gente já conhece, mas que influencia todo o corpo, não é tarefa fácil. Se abre uma porta espiritual para que toda a espiritualidade se manifeste, seja boa ou ruim, e sempre será assim, pois este é um dos principais fundamentos da nossa religião: "Aprender com os que sabem mais, ensinar aos que sabem menos, e a nenhum virar as costas.".

Mas então, se a Umbanda não é o mercado de milagres que muitos pregam, se não é aquele lugar em que os espíritos estão sempre dispostos a atender a todas as nossas vontades egoístas, o que a Umbanda tem a nos oferecer?

Pois é, meus caros. A Umbanda nos dá força. Nos dá força pra lutar pelos nossos relacionamentos, nos dá força para nós abrirmos o nosso caminho, nos dá força para aprendermos a lidar com toda essa ferramenta cármica que é a mediunidade. A Umbanda tem a audácia de tirar de nós toda a nossa máscara, as nossas armaduras, e nos fazer permitir ser quem nos verdadeiramente somos, para então tentarmos uma auto transformação. Mas a Umbanda é tão respeitosa, mas tão respeitosa, que só nos despe se a gente se abrir a isso. Caso contrário, ficamos pairando no Terreiro como um corpo inerte, boiando num mar à deriva, vendo os que estão à nossa volta seguirem, e nos perguntamos "o que estamos fazendo aqui? Por que isso não acontece comigo?". Um médium que esqueceu de se abrir ao espiritual, que preferiu sentar e esperar as coisas acontecerem...esqueceu que precisa ser ativo no processo, que Deus não manda nada de paraquedas pro nosso colo.

Enfim, a Umbanda me oferece a Fé de Oxalá, a Justiça e o Equilíbrio de Xangô, o Amor de Oxum, a Força de Ogum, a Consciência de Iemanjá, a Fartura e o Conhecimento de Oxóssi, o Movimento de Iansã, a Resignação de Nanã, a Transformação de Omulu, a Alegria da Beijada, o Vigor dos Caboclos, a Sabedoria dos Pretos Velhos, a Proteção dos Exus. Mas pra gente receber tudo isso, a gente tem que querer! Tem que fazer por onde! Tem que fazer a nossa parte! NUNCA vamos receber nada de graça.

Que a partir de hoje, a gente possa adquirir o hábito de nós questionarmos se estamos agindo certo com a Umbanda. Não com o sacerdote, mas com a religião. Se estamos respeitando o chão que a gente pisa, respeitando os fundamentos que abraçamos, se estamos fazendo a nossa parte. E, principalmente, que possamos refletir todo dia sobre o tema da nossa próxima dinâmica: O QUE EU TENHO A OFERECER À UMBAMDA?

Saravá, meu povo.