terça-feira, 7 de novembro de 2017

Mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas

Salve meus caros!

Hoje venho compartilhar com vocês uma mensagem do Patrono da nossa Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, retirada do blog http://umbandamagia.blogspot.com.br/2015/09/mensagem-do-caboclo-das-sete.html. Créditos totais aos nossos irmãos! Vamos ler.

Um dos últimos discursos do Caboclo das Sete Encruzilhadas em Zélio Fernandino de Moraes: 

 "A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. 
       
O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. 

       Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. 

       Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. 

       
A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. 

       Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. 

        Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar.    

É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. 

       Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas"

Este texto é suma relevância a todo espiritualista umbandista. Traz em suas entrelinhas, muitas profecias e a mensagem de consolo a todo trabalhador da Seara de Umbanda encarnado e desencarnado


Obs.: Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Demanda da Mente

Salve, gente boa.

          O tema da dinâmica desta semana foi “Demanda da Mente”. Eis um tema delicado, e de suma importância dentro do Terreiro. A mente é a ferramenta de trabalho mais utilizada pelo Espiritual Superior, e o maior alvo do Espiritual Inferior. A atuação no campo mental é tão sutil, que muitas vezes somos influenciados positiva e negativamente e nem percebemos!

          Mas...e a dinâmica, como foi?

          Nossa Corrente apresentou uma aderência incrivelmente melhor a esta dinâmica, com uma percepção bastante clara do conceito de Demanda da Mente. Acredito que isso tenha se dado devido às diversas experiências pessoais que me foram relatadas nas respostas e nos nossos Estudos. Todos nós sofremos com este tipo de demanda em algum momento da nossa vida, com uma freqüência mais ou menos perceptível, e isso fez com que quase todos se interessassem pelo tema. Fiquei bastante satisfeito com o resultado. Mas vamos lá!

          Primeiramente, o que significa demanda?

          Esta é a definição encontrada no site www.dicio.com.br:

Procura; ação ou efeito de demandar, de buscar: a demanda desse produto aumentou; esse trabalho demanda muito esforço.

Litígio; o processo e/ou a ação judicial: demanda judicial.

Luta; ação de combater ou confrontar de maneira violenta.

Reivindicação; ação de exigir, reivindicar, de demandar esforços para recuperar algo que pertence a outra pessoa: demanda de recursos.

Contestação; em que há disputa ou discussão; debate repleto de polêmica.

Interrogação; ação de perguntar ou indagar.

Em demanda. Que está procurando alguma coisa; em busca de.


          Uma palavra bem abrangente, mas que no nosso contexto espiritual, a definição no ponto “Luta” se enquadra perfeitamente. Demanda então seria a ação de confrontar de forma violenta. Mais especificamente, podemos dizer que Demanda da Mente seria a ação de confrontar em pensamento [ou ser confrontado em pensamento] de forma violenta.
          Nossa mente, como dito anteriormente, é uma excelente ferramenta de atuação. Ela constrói, significa e ressignifica toda a nossa realidade. No Espiritual, é com ela que captamos a maior parte das informações espirituais, e com ela as significamos para a nossa realidade física. Em contra partida, as influências negativas de uma demanda da mente são extremamente danosas, pois comumente não atentamos para a qualidade daquilo que pensamos, e como já temos “por natureza” certa dificuldade de organizar e direcionar nossos pensamentos, estas influências negativas se misturam com incrível facilidade aos nossos próprios pensamentos fragilizados, nos influenciando absurdamente, sem que percebamos.
          Acho que já deu para perceber como este tema é urgente e delicado. Como precisamos desenvolver e exercitar constantemente a habilidade de cuidarmos daquilo que ronda os nossos pensamentos! Este tipo de energia mental negativa muitas vezes nem tem um contra ponto no físico. Muitas vezes, não tem uma vela acesa, um despacho arriado, para que soframos este tipo de demanda. Muitas vezes, é só energia mental se sintonizando com energia mental, de pessoas e/ou espíritos.
          Na nossa dinâmica, quase todos apontaram os pensamentos negativos como sendo os principais causadores da demanda da mente. Inveja, raiva, ciúmes, vingança, egoísmo, olho grande... estas foram expressões presentes em quase todas as respostas. Mas alguns desdobramentos de demanda da mente surgiram nas respostas também: auto demanda, e demanda NA mente. Então, vamos falar um pouco mais sobre a diferença entre demanda DA mente, demanda NA mente e auto demanda. Apensar de todas elas serem partes de um mesmo processo, acho importante apontarmos as diferenças.

          Demanda NA Mente

A demanda NA mente acontece quando nós começamos a receber estas setas negativas na nossa mente. De repente, aparecem pensamentos pessimistas a respeito de nós mesmos, ou a respeito do Terreiro, ou a respeito de algum irmão de santo, mas este pensamento não tem nenhuma relação com o que a gente sente ou pensa de fato. Neste ponto, nós nos encontramos em uma posição passiva em relação aos pensamentos.  Quando conseguimos identificar estas setas neste período, o tratamento normalmente é bem mais eficaz. O problema é quando estas setas conseguem encontrar as brechas mentais, as nossas fraquezas mentais, e a gente começa a tomar estes “pensamentos” como verdadeiros...

Demanda DA Mente

          Neste momento, estas setas conseguiram influenciar nossos pensamentos, e aquela idéia sem sentido de que determinado irmão não vai com a sua cara se torna verdade dentro de nós, e começamos e emanar esta energia de volta, misturada aos nossos próprios pensamentos. Aí, entram de fato a inveja, o ciúme, o mal olhado, etc.
          Importantíssimo ressaltar que não significa que as influências externas são as únicas causadoras da arrogância, da prepotência, dos ciúmes, etc. Não é isso. Nós somos falhos, não podemos esquecer. Muitas vezes nós mesmos somos ciumentos, invejosos, prepotentes, julgadores, etc. O que a demanda da mente faz é identificar estas falhas em nós e entrar por elas, direcionando essas nossas falhas a pessoas específicas, com o objetivo mais escuso possível. Em outras palavras, você não é invejoso porque sofre obsessão para ser assim. Você é invejoso porque você é invejoso mesmo, e o que o obsessor faz é direcionar isso que já existe em você para te prejudicar e prejudicar os outros.
          Mas então, estas são as brechas mentais que a gente abre neste processo. Os nossos vícios do ego, além de serem os gatilhos que nós mesmos acionamos para cairmos na nossa caminhada espiritual, ainda podem servir de brecha para estas setas negativas vindas de fora. Por isso a urgência de termos o hábito freqüente de nos policiar, de nos auto analisar, de reconhecer as nossas fraquezas sem medo, para que a gente possa agir sobre elas. Caso contrário, acabamos nos tornando ativos neste processo de demanda, e adquirimos parcela de responsabilidade de toda e qualquer energia negativa emanada por nós.

Auto Demanda

Mas e a tal da auto demanda? Esta nada mais é do que a enxurrada de pensamentos negativos, internos (oriundos dos nossos próprios vícios do ego) ou externos, que têm por finalidade nos paralisar, nos maltratar, nos danificar. Enquanto da demanda da mente nós podemos ser instrumentos para queda de qualquer pessoa, na auto demanda nós somos instrumento para a nossa própria queda.

Meus caros, vamos cuidar daquilo que anda perambulando pela nossa cabeça! Vamos desenvolver o hábito de questionar. “Será que este pensamento é meu mesmo”; “Por que eu estou pensando isso do meu irmão? Eu nem sei o que ele passa dentro de casa...quem sou eu pra julgá-lo?” Será que é a minha Casa Espiritual que está errada, ou sou eu que estou errado diante dela?”... Estes são excelentes questionamentos para barrar a demanda NA mente...para impedir que nos tornemos ativos neste processo negativo de obsessão.
“Será que isso que eu vou contar pro meu irmão é verdade mesmo?”; “Será que vale a pena fazer essa fofoca? Que utilidade vai ter?”; “Por que eu quero fazer isso? Isso realmente é bom pra mim?”; Questionamentos excelentes para barrarmos a demanda da mente e a auto demanda.
          Precisamos entender, com a máxima urgência, que SEMPRE SOMOS ATIVOS EM TODOS OS PROCESSOS ESPIRITUAIS. EM DEMANDAS “TRADICIONAIS” OU EM DEMANDA DA MENTE, SEMPRE TEMOS NOSSA PARCELA DE RESPONSABILIDADE.
          Somos seres humanos...sempre seremos falhos enquanto formos seres humanos. Precisamos entender que somos nós que nos mudamos, nos moldamos. Não podemos colocar a responsabilidade inteira nas costas do Espiritual. Precisamos entender que não é vergonha ser falho! Todos nós somos! É muito mais bonito reconhecer as nossas falhas e tentar amortecê-las, do que tentar esconde-las do universo e, sem perceber, exalá-las pelos poros de forma tão clara que algumas vezes chega a assustar os olhos externos.
          Isto é ser um médium ativo. É se policiar o tempo todo para não ser instrumento de discórdia e nem brecha de demanda. É se entregar com honestidade à Espiritualidade, e permitir que eles nos afinem, para sermos instrumentos mais agradáveis. É entender que este processo muitas vezes é doloroso e demorado, mas é melhor sofrer por um tempo com um tratamento verdadeiro, do que viver de ilusão, e ir morrendo aos poucos.
          Que os nossos pensamentos sejam cada vez mais bem sintonizados com o Alto; que tenhamos cada vez mais habilidade de driblar nossos vícios do ego, e assim fecharmos todas as portas das Demanda da Mente. Que possamos executar cada vez mais plenamente uma mediunidade saudável.
         
           Que Oxalá nos abençoe e nos proteja, hoje e sempre.


          Pai Eduardo Salles.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Médium Ativo!

Saravá, gente boa!!!

Vamos pegar um gancho na nossa dinâmica do Ego, e falar um pouco sobre a participação ativa dos médiuns no seu processo de desenvolvimento? Vamos sim. Mas antes, eu queria começar pela parte “negativa” desta participação. Vamos falar sobre o que acontece de fato quando um “vício do ego” age no nosso desenvolvimento. Vamos falar então de vaidade, prepotência, medo, timidez, pré julgamento, impaciência, inveja. Vamos lá!

Vaidade


- qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória.

- valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros.

- avaliação muito lisonjeira que alguém tem de si mesmo; fatuidade, imodéstia, presunção, vanidade.

- coisa insignificante, futilidade; vanidade.

A vaidade é o traço vicioso do ego mais fácil de identificar, mais comum nos médiuns novos, ainda inexperientes e desconhecedores dos fundamentos da nossa Religião, e o maior alvo da direção espiritual do TUBA. A vaidade, como a própria definição nos aponta, é vazia e mentirosa. Num âmbito espiritual, eu achar que sou o melhor porque meu Guia faz algo interessante, ou que meus Guias merecem a melhor roupa, a melhor bebida, o melhor adereço, tudo isso funciona como a principal ferramenta para que se corte a sintonia, numa Religião em que um dos principais pilares é a humildade. Somos somente instrumentos. Os nossos Guias não são nossos de verdade. Só firmaram um acordo de caminhada conjunta conosco. Mas também vivem a humildade na Umbanda. Para se estar num terreiro de Umbanda, precisamos nos aliar diariamente à humildade, ao espírito de sacrifício, à caridade. É uma caminhada laboriosa, muitas vezes doloridas, e não tem espaço para que se permita um desfie de orgulho e vaidade.

Prepotência

- característica do que é prepotente.

- poder mais alto.

- abuso do poder ou de autoridade; opressão, tirania, despotismo.

- tendência para o mandonismo, esp. se se possui alguma vantagem, como riqueza, poder, força física etc.

A prepotência é o desvio do nosso ego que nos engana, quando nos faz acreditar que realmente somos superiores aos nossos irmãos, principalmente quando começamos a dar alguns passos no nosso desenvolvimento, e acabamos recebendo algum cargo, ou entregamos algumas Obrigações e entendemos que estamos prontos para menosprezar aqueles a quem acreditamos estar abaixo de nós. Prepotência é irmã do autoritarismo, e é completamente repreensível, tanto no espiritual quanto no físico. Na nossa Casa, eu e Mãe Nathália, como Sacerdotes da Casa, nos colocamos como iguais, em termos de importância, aos nossos filhos. Ora, se os Sacerdotes têm esta postura, quem abaixo deles teria o direito de fazer diferente?
Não podemos esquecer que a Umbanda é sim uma Religião hierárquica, mas esta hierarquia não nos dá super poderes. De forma alguma. Muito pelo contrário. Quanto mais caminhamos no nosso desenvolvimento, mais somos cobrados a termos espírito de sacrifício. Mais trabalhos de caridade aparecem, e se não amortecemos a nossa prepotência, não tem quem aguente.
Na nossa Casa, a quem mais é dado, mais é cobrado, e nenhum cargo é sinônimo de poder. Cargos e Obrigações são proteções para o trabalho, e não poder. Todos nós, na mesma medida, temos os mesmos poderes, as mesmas capacidades. Somos todos importantes na mesma medida, e da mesma forma, nenhum de nós é insubstituível. Precisamos tomar muito cuidado com a prepotência, pois ela nos coloca num altar, e a gente sempre se machuca quando cai dele.

Medo

- psic estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência.

- temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio.

- apreensão em relação a (algo desagradável).

O maior dano que o medo pode trazer para o nosso desenvolvimento espiritual é a paralisação. Por medo, eu me travo, não permito manifestações, não permito contatos espirituais, às vezes não permito nem o meu próprio ingresso numa Corrente Mediúnica. A questão é que ninguém é chamado para um trabalho espiritual sem que tenha uma Coroa Espiritual para o amparar. Existem diversos espíritos empenhados basicamente em nos fazer cumprir a nossa missão e cumprir a própria missão conosco. Isso é lindo, mas requer de nós a coragem para nos abrirmos a novas experiências...experiências estas que são únicas. Ninguém tem uma mediunidade exatamente igual à outra. Nós a categorizamos para facilitar a didática, mas o Espiritual se manifesta de uma forma singular para cada um de nós. Precisamos tomar cuidado para que o medo do desconhecido não nos prive de experiências fantásticas com o espiritual, e de trabalhos espirituais bastante importantes para o nosso desenvolvimento.

Timidez

- estado, condição ou característica de tímido; acanhamento excessivo.

- qualidade de quem é fraco, frouxo.

Realmente, bastante agressiva a definição de timidez no dicionário. Acho importante a gente tentar ressignificar ela. No lugar de “qualidade de quem é fraco, frouxo” podemos dizer que é a qualidade de quem SE SENTE fraco, frouxo. Entendo a timidez como bem próxima do medo, mas com a diferença de que, na timidez, a nossa maior preocupação é o que as pessoas vão pensar, se os nosso Guia vai bradar, se vai dançar, se vai dançar errado e as pessoas vão reparar, e por aí vai.
Neste ponto, a timidez é tão prejudicial quanto o medo, justamente pela paralisação. Não nos permitir caminhar por preocupação com o que as pessoas vão pensar, é pura perda de tempo. Se a nossa intenção for acertar, a gente sempre vai ter o amparo devido para nos corrigir e nos indicar o caminho certo da melhor forma. Se tivermos amortecido a nossa vaidade, uma exortação nunca nos ferirá. E o correto é que da mesma forma que a gente não gosta de ser apontado pelo nosso irmão, que a gente não aponte! Como disse anteriormente, o Espiritual se manifesta de forma única para cada um de nós, e temer a aprovação ou reprovação do outro é tão prejudicial quanto se dar ao direito de julgar a manifestação do outro porque não é como a sua! Vamos tomar cuidado com o nosso olhar para o outro. Vamos deixar que os Sacerdotes olhem o irmão. Vamos nos preocupar com a nossa entrega pessoal e sincera ao Espiritual.
               
  Julgamento

- jur ato pelo qual a autoridade judicante, após examinar os autos do processo e formar sobre ele um juízo, expõe e justifica sua decisão para a solução do conflito.
- jur a sentença de um juiz ou tribunal; decisão resultante de uma disputa judicial.
- jur audiência de um tribunal perante o juiz.
- apreciação crítica, opinião (favorável ou desfavorável) sobre alguém ou algo; juízo, parecer.

                    Apontei o significado de julgamento para falar sobre pré julgamento. Este seria basicamente o caminho contrário do apontado na timidez. No pré julgamento, eu me sinto no direito de julgar, apontar, criticar a manifestação do outro, a forma como o outro se coloca ou deixa de se colocar para o espiritual, a frequência do outro na Gira, etc. Resumindo, eu me sinto no direito de julgar a vida do outro. Um grave erro, que normalmente resulta em situações em que o médium é exposto involuntariamente e acaba sendo julgado da mesma forma. E essa inversão não acontece por vingança, mas por um princípio espiritual básico, e até bíblico: Lei do Retorno. Ou, biblicamente “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós...” (Mateus 7:1,2).
                    Ou seja, o nosso pré julgamento sempre será a balança para o nosso julgamento. Vamos tomar cuidado.
               
Impaciência

qualidade, estado ou condição de impaciente; falta de paciência.

incapacidade para sofrer sem se desesperar ou para suportar algo molesto ou incômodo; irresignação.

                      A impaciência, na esmagadora maioria das vezes, é um imenso desrespeito. Quando esta impaciência se dá por conta de questões relacionadas a nós mesmos, à nossa mediunidade, é uma falta de respeito com o nosso próprio tempo, com o tempo que precisamos para nos alicerçar na nossa fé antes de sair para a “batalha”. Gosto bastante da ideia da casa para comparar com o desenvolvimento mediúnico. Antes de construir as paredes, precisamos firmar o fundamento da casa. Antes de construir o telhado, precisamos do fundamento firme e das colunas de sustentação... da mesma forma se dá com o nosso desenvolvimento mediúnico. Precisamos nos firmar nos fundamentos e nos alicerces antes de nos declararmos como prontos e nos aventurarmos ao trabalho espiritual. Caridade é algo muito sério para ser feito de qualquer jeito. E a nossa maior preocupação é com o bom desenvolvimento, com o desenvolvimento seguro e bem firmado de cada um dos nossos filhos.
                      Manifestações constantes não quer dizer nada se não forem acompanhadas de bons frutos de firmeza. Claro que as manifestações são sempre importantes, a meu ver, pois aumentam a sintonia com aquele Orixá/Guia, e quanto mais bem sintonizado eu estiver, melhor eu desempenho o meu papel quando eu for posto para a caridade. Mas a manifestação espiritual é a ponta de um iceberg. Além de uma manifestação aparentemente firme, precisamos de frutos de firmeza do Guia e do médium, e isso se dá invariavelmente com o passar do tempo. Impaciência só te leva para o caminho da frustração. Se cada um de nós entendermos que tudo tem o seu tempo (o que inclusive também é bíblico), poderemos aproveitar com muito mais intensidade todas as fases do nosso desenvolvimento. Teremos um fundamento bem feito, alicerces bem fundamentados e posteriormente, um belo telhado na nossa “Casa”. Afinal de contas, todos nós sabemos o que acontece se colocarmos a laje numa casa mal alicerçada, ou ainda se tiramos as escoras da laje antes do tempo...(para os desinformados, cai tudo na nossa cabeça...rs)

Inveja

desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia.
desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem.

                      Acredito que, pela definição, a inveja dispensa comentários. A Umbanda é linda, e tudo nela chama a atenção. O cheiro, as cores, as danças, as manifestações, tudo. Mas toda essa beleza reservou uma experiência ÚNICA para cada um de nós. Cada um de nós terá respostas, contatos, sentimentos, movimentos ÚNICOS com o nosso Sagrado. Então, por que cargas d’água eu vou invejar a forma como o meu irmão manifesta o seu sagrado? Por que eu vou querer ter o Caboclo das Sete Montanhas de Xangô da Pedra Preta, se o meu irmão tem só o Caboclo Sete Montanhas? Posturas como essas acabam afastando o Caboclo Samambaia, que levaria experiências maravilhosas. Enfim, exemplos não faltariam.
                      O fato é que a inveja é a mãe de todos os males. Nossa Religião é toda doação. É se doar para o Espiritual para que ele se manifeste e atue nos outros. É receber doação do Espiritual para o nosso equilíbrio. É doar nosso tempo, nosso lazer, nossas energias, para que pessoas que muitas vezes nem conhecemos tenham um pouco de alívio de suas dores. E diante disso, como a inveja poderia nos ajudar? Precisamos entender e acreditar que cada um de nós é único. E para cada um de nós estão reservadas experiências únicas. Almejar as experiências alheias é um atraso para a própria vida espiritual.
                      Tudo isso para apontarmos os riscos nocivos aos vícios do ego, a que todos nós estamos sujeitos. Todos nós precisamos vigiar a todo tempo para não cairmos nestes vícios e não baixar nossa vibração, nos sintonizando com o que não se deve. O Espiritual é lindo, mas sério e sutil, e nós temos SEMPRE uma participação ativa em todo o processo de manifestação do espiritual na Terra. Mas então, qual seria o melhor remédio para não cairmos nestes desvios e contribuirmos ativamente para o nosso bom desenvolvimento, para a boa sintonia com o Espiritual de Luz?
                      Consciência e Prece. Consciência de que se fôssemos perfeitos nem teríamos encarnado. Eu não sou perfeito, a Mãe de Santo não é perfeita, os Ogãs não são, nem os Cambonos, nem os médiuns de trabalho, nem os de desenvolvimento, nem a Assistência. Precisamos ter a consciência de que SEMPRE teremos o que corrigir em nós. Sempre temos o que aprender, o que crescer. E a prece? Prece é benéfica a todo tempo, mas uma forma eficaz de evitar a quebra da boa sintonia durante a Gira é sempre entrar em prece pedindo para que sejamos apenas bons instrumentos, que o nosso ego seja calado naquele momento, que o Espiritual tenha liberdade para se manifestar em nós da forma mais pura possível. Uma prece simples dessa pode evitar muitos males, se feita sempre no início da Gira. Com o passar do tempo, automaticamente esta prece vai se ampliando para o momento em que a gente acorda, para o momento em que alguém nos pede ajuda numa conversa no trabalho, na rua, no ônibus, e a gente acaba percebendo que a luz que a gente busca na Umbanda nos acompanha a todo tempo, e a todo tempo somos chamados para sermos instrumento.
                      Que a gente tenha consciência da importância de uma boa sintonia com o Alto com a maior constância possível. Que a gente tenha consciência que a Caridade não é feita somente quando a gente está de bom humor, ou quando tudo está maravilhosamente bem na nossa vida. Que a gente tenha consciência que o nosso chamado é grande, mas se faz com humildade, diariamente. E que ninguém nos obriga a absolutamente nada. Se nós não quisermos a humildade, a compaixão, o amor, a paciência, a fé, estas não vão arrombar as portas do nosso coração e nos mudar à força. É preciso que a gente abra a porta. Que a gente abra as portas do nosso coração para que Deus nos contemple com as maravilhas que Ele guardou para cada um de nós, de forma única. E que a prece seja a nossa maior ferramenta de mudança. Vamos aprender a fazer prece!
                      Para encerrar, deixo mais uma passagem bíblica, com mais um ensinamento de Pai Oxalá para nós, para refletirmos. "Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta" ( Mateus 7:7). O Espiritual espera que façamos a nossa parte, que nos coloquemos na posição de instrumento, para que o Espiritual haja em nós e através de nós.

Que Oxalá nos abençoe e nos ampare nessa caminhada.

Saravá!


Pai Eduardo Salles

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Ego

         
          Salve, gente boa!

Hoje vamos falar sobre Ego. Eis um tema curioso, em se tratando da nossa dinâmica. As questões foram:

1 - O que vocês entendem como Ego, e quais são os efeitos dele na caminhada espiritual de um médium?

2 - Quais são os traços do SEU Ego que você entende ser a sua maior dificuldade de lidar, que precisa ser trabalhado e melhorado na sua caminhada espiritual?

Como toda boa dinâmica, eu me diverti bastante com a nossa Corrente. Tivemos as mais diversas respostas. Alguns não entendem nada sobre ego, outros entraram em questões freudianas, alguns falaram tanto que conseguiram não falar nada. Mas, entre mortos e feridos...vamos falar sobre Ego.
Quando Pai Benedito nos propôs esta dinâmica, num primeiro momento eu fiquei bastante empolgado. Seria muito interessante relembrar dos tempos do curso de Psicologia... Ah, Freud. Mas então, Pai Benedito mandou que eu fizesse um relatório individual do progresso dos médiuns da Corrente, e ainda contrapor o que cada um respondeu na dinâmica com o que a gente tem percebido no dia a dia. Passei a gostar um pouco menos do tema. Mas, vamos lá.
Primeiramente, precisamos diferenciar o conceito de Ego “científico” e o conceito de Ego “popular”. O termo científico significa uma estrutura da personalidade humana. O termo propriamente dito significa “eu” em latim. Seria então a forma como eu resolvo e organizo os meus desejos, minhas vontades, na sociedade em que vivo sem ferir os conceitos dela que estão em mim. A forma como a gente significa as experiências que temos, nossos contatos com o mundo; a forma como organizamos os nossos medos e reagimos diante deles; tudo isso é organizado pelo nosso “Ego”, pelo nosso “Eu”. Freud só tornou o “eu” um objeto para que a gente entendesse de forma didática que tem coisas em nós que nos influenciam e que nem sempre a gente tem consciência. Por isso, os nossos desejos viraram “id”, a nossa individualidade virou “ego” e as nossas forças morais e controladoras viraram “superego”. Mas no final, consciente e inconsciente acontecem ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo em que desejamos, nos culpamos quando este desejo pode ferir nossa imagem social, seja consciente ou inconscientemente. Mas então... era sobre toda essa doideira que Pai Benedito queria que pensássemos?
Não. Ele queria que pensássemos no conceito popular do termo, que pode ser melhor entendido com a expressão “ego inflado”. Popularmente, a expressão “ego” é usada para caracterizar as pessoas que possuem traços egoístas de personalidade; e egoísmo significa:

amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem.

    exclusivismo que leva uma pessoa a se tomar como referência a tudo; orgulho, presunção.

    atitude ética ou social que parte do princípio de que o fundamento de todo pensamento ou ação é a defesa dos próprios interesses.

Mas Pai Eduardo, a gente precisava pensar sobre isso tudo? Não. Estamos entrando nestes méritos porque foi o que me foi trazido pela Corrente. Alguns disseram que o Ego não necessariamente é ruim. Realmente não é. Em termos científicos, ele é fundamental para a nossa vida em sociedade, para a construção da nossa auto imagem, para caminharmos rumo ao nosso lugar no mundo.
Mas precisávamos pensar no âmbito espiritual, onde não fazemos NADA sozinhos. Precisávamos pensar até onde os vícios do nosso Ego podem prejudicar a nossa própria caminhada. Era isso que pai Benedito queria de nós. Que tivéssemos consciência do quanto somos egoístas e que tivéssemos coragem de colocar em palavras esses vícios do Ego. Vícios como prepotência, arrogância, timidez, medo, melindre, inveja, vingança, ira, etc.
E as respostas... bastante curiosas. Tiveram pessoas que escreveram textos enormes, mas no meio de tantas palavras foram incapazes de apontar sequer um vício do próprio ego. Pessoas que reconheceram como esta reflexão é doída, pois estamos numa casa de amparo, desenvolvendo habilidades mediúnicas para em breve servirmos de instrumento de caridade de vários espíritos, mas ainda assim temos alguns destes vícios que precisam ser tratados.
As participações foram diversas, mas o que mais me marcou foram as respostas evasivas. As pessoas que, consciente ou inconscientemente, não tiveram coragem de reconhecer que não são perfeitas. Mas, este não é o espaço para julgamento, e não somos nós os juízes.
O fato é que estes vícios do Ego, estes traços mal resolvidos da nossa personalidade, são extremamente prejudiciais para o nosso próprio desenvolvimento espiritual porque escolhemos (ou fomos escolhidos?) uma Religião fundamentalmente social, onde nem o Sacerdote é auto suficiente. Todos somos importantes no momento da Gira, cada um desempenhando a sua função. Contudo, ninguém é insubstituível. Ninguém está numa posição acima de outrem, ninguém se torna semideus ao avançar no seu desenvolvimento. A qualquer momento, a Corrente pode ser ressignificada, com um elo se desligando, outros se unindo, e sempre que todos os elos mantiverem a mesma sintonia, o trabalho será bem executado.
E os efeitos do Ego no desenvolvimento? Vamos lá. Quando o médium não tem a humildade de reconhecer que não é ele que faz, mas que o espiritual é quem faz através dele, e que ele não é mais nem menos que o seu irmão, ele dá voz aos vícios do próprio ego e seu desenvolvimento trava; sua sintonia muda e este médium pode se abrir para obsessões complexas. Como bem disse Mãe Nathália em algumas das nossas várias reuniões doutrinárias, o Ego é a forca que o médium cria para sua própria morte espiritual.
Mas...e o Pai de Santo? Eu tenho diversos vícios do meu Ego. E em respeito aos irmãos que tiveram a coragem de se abrir para mim, de colocar para fora partes não tão agradáveis de si mesmos, vou me abrir para vocês também. Eu sou bastante rancoroso. Guardo dentro de mim, como se fosse uma gravação, os comentários, as posturas, as atitudes que me incomodam. Às vezes, anos depois, eu me pego baseando minhas atitudes nessas gravações mentais que eu danosamente guardo. Luto todos os dias contra a prepotência e a arrogância, e confesso que nem sempre consigo vencer. E não adianta tomar a atitude ridícula e repugnante de colocar a culpa no meu Pai de Cabeça. Não é porque sou filho de Xangô que sou arrogante, mas é justamente por ser arrogante que Xangô tomou minha cabeça...para me consertar...rs... Ainda assim, confesso que já fiz muito isso. Já estive em desenvolvimento, ainda continuo para muitas coisas. Mas já quase larguei tudo algumas vezes. Já tive que engolir muito sapo, tive que aprender o que é respeito aos mais velhos sendo humilhado, e isso tudo se tornou muito mais difícil por conta da tal da arrogância. Já arrotei santidade, como bem fala a nossa Mãe Nathália; já passei pelo desleixo com as coisas espirituais; já desmereci minha família, tudo por conta da bendita da arrogância. Hoje aprendi que ela faz parte de mim. É, como citou o apóstolo Paulo, o espinho na minha carne, e eu tenho que aprender a controlar e conviver com ela. Além disso, sou facilmente irritável, e bastante grosso quando fico irritado. Em questões espirituais, quando vejo algo sendo feito errado, me irrito com uma facilidade incrível. E estou tendo que aprender a lidar com isso. Estou aprendendo a me silenciar para não esr estúpido; A respeitar o tempo e a ignorância das pessoas; aprender que ninguém nasce sabendo. Eu não nasci sabendo tudo e não posso exigir isso de ninguém. Acho que essa brutalidade e essa agressividade deve estar ligada à bendita arrogância. Além disso, eu muitas vezes duvido da minha própria espiritualidade. As vezes eu fico com medo disso tudo. As vezes eu fico com medo de não saber o que fazer, como fazer, onde fazer. Graças a Deus e a Pai Benedito, isso tem sido cada vez mais  bem tratado em mim. Hoje eu consigo ter fé por mim e por mais quarenta, muitas vezes. Hoje eu percebo que estes medos acontecem quando eu acho que sou eu que faço, quando eu esqueço que sou só um instrumento, assim como cada um dos elos da nossa Corrente. E aí eu percebo que quando se precisa ser feito algo, eu tenho a mão de Benedito no meu ombro, e de repente eu esqueço de ter medo. Enfim, isso é uma parte dos meus vícios de ego que consigo me lembrar agora.
O importante é entendermos que não é vergonha admitir que somos imperfeitos. Se fôssemos perfeitos, não teríamos encarnado. Por mais que não queiramos afirmar, sempre temos o que melhorar, o que controlar, para que o nosso espiritual se desenvolva de forma saudável.
Que a gente não se esqueça que somos humanos. Que na nossa Casa, NINGUÉM é melhor que ninguém. Não tem um cargo que faça um ser humano ser melhor que outro. Se eu, como Sacerdote, me coloco como ser humano, no mesmo patamar que o filho que acabou de entrar na Corrente e nunca tinha pisado numa Casa de Umbanda na vida, não será tolerado que ninguém se coloque em pedestais. Que possamos refletir constantemente nos vícios do nosso ego, e os que ainda não conseguiram perceber seus vícios, que reflitam mais um pouco. Que a gente não esqueça que o nosso desenvolvimento é constante, que a espiritualidade nos observa constantemente, e que o nosso único objetivo ali é nos tornarmos seres humanos melhores.

Que Oxalá nos abençoe e nos ampare nessa caminhada.

Saravá!


Pai Eduardo Salles.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sagrado

Salve salve, gente boa.


Já tem um tempo que a gente lançou a nossa última dinâmica, e por conta da complexidade dela e da nossa falta de tempo, não consegui terminar dentro do nosso prazo. Mas retomando nossos trabalhos, aquela nossa dinâmica teve como tema o Sagrado. O que temos de Sagrado, tanto em âmbito físico quanto em âmbito espiritual?

Precisa falar que as respostas foram diversas, engraçadas, surpreendentes? Acho que não. Realmente é fundamental conhecermos a fundo o que vivemos. Só somos capazes de desempenhar bem um papel, quando o conhecemos por inteiro. Mas antes de tentar resumir o que é Sagrado na nossa Umbanda, aos olhos do nosso TUBA, vamos entender o que significa o termo “Sagrado”:

1.     
relativo ou inerente a Deus, a uma divindade, à religião, ao culto ou aos ritos; sacro, santo.
"liturgia s."
2.       
que recebeu a consagração, que se sagrou.

       Mas...e qual seria o oposto de Sagrado?

1.     
que não pertence ao âmbito do sagrado.
"coisas p."
2.       
que é estranho, que não pertence à religião.
"elementos p. penetraram no santuário"

       Estas definições se referem ao termo “Profano”. Ou seja, para entendermos bem os elementos sagrados da nossa Religião, precisamos entender bem o que significa Sagrado e Profano. Eu não consigo enxergar elementos profanos na Umbanda. Vejo atitudes profanas, e sobre elas conversaremos mais adiante.
       Para tornar nossa exposição mais didática, vou separar os elementos em duas categorias: espiritual e físico. Por “espiritual” eu entendo as coisas que não possuem necessariamente um invólucro físico. Claro que essa idéia é extremamente simplista. Mas eu tento deixar as coisas mais praticas e didáticas possíveis. Em conversas posteriores, podemos nos aprofundar nisso tudo. E como “físico”...acho que dispensa comentários. Cada categoria terá tópicos, explicando cada elemento sagrado. Bem...sem mais delongas, vamos lá.


§  ELEMENTOS SAGRADOS ESPIRITUAIS


Deus

Eis nosso “Elemento Espiritual Sagrado” mais importante. Podemos chamar de Zambi, Olorum, Tupã, Deus, Pai Maior, Senhor, enfim...vários nomes para caracterizar o princípio de tudo, a mão que coordena toda essa gigante e complexa máquina caótica que é a Vida. O dono do início e do fim, mas que não possui início e nem fim. A força suprema. Onipotente, Onisciente, Onipresente, se reflete para nós, Umbandistas do TUBA, através de Oxalá, o Orixá da luz e da fé. Em outra oportunidade, tentaremos nos aprofundar nos Mistérios dos Orixás, mas aqui, cabe apontar que, como cristão, entendo Cristo como o Filho de Deus, respeitando todo o Mistério da Trindade, e vejo Oxalá como uma das faces do Cristo na Terra. Vamos resistir à tentação de escrever sobre o Mistério da Trindade, de Cristo e Oxalá, e vamos entender Deus como a Força que nos move, que permite que sejamos instrumentos de algo que está além do que nossos olhos podem contemplar...que nos permite experiências muitas vezes inacreditáveis, e faz tudo isso em troca da nossa doação sincera e completa.

Orixás

Os Orixás são Irradiações de Deus. São forças puras da Natureza, que se alinham a Espíritos de Alta Hierarquia, que as coordena. Claro que nós, seres humanos densos, nunca poderíamos receber em nossos corpos a energia pura do oceano, ou do vento, por exemplo. E nem estamos alinhados para receber em nossos corpos os Espíritos de Alta Hierarquia que as coordenam diretamente. Mas então, o que recebemos no Terreiro, afinal?
Como tudo no mundo espiritual é extremamente organizado, por mais que nossos olhos limitados vejam o caos, esta hierarquia espiritual dos Orixás se desdobra até uma vibração “aceitável à nossa realidade”. Este desdobramento também seria um excelente tópico para conversas futuras. O que vale para nós neste momento é que cada Orixá possui sua falange, que se desdobra em subfalanges, até nos alcançar sem danificar a nossa densidade. Como partes da Natureza, cada um de nós traz em si a força de todos os Orixás, sendo que algumas se sobressaem a outras, de acordo com a nossa Missão nessa vida. Isso faz com que sejamos filhos de Xangô, ou de Ogum... Isso na realidade significa que a energia de Ogum se sobressai na vida de um filho seu, influenciando sua personalidade, suas dificuldades na vida, suas habilidades, etc. 
 Cada Orixá tem sua morada em pontos de força na Natureza, relacionados à energia que coordena. Com isso, os Orixás, força espiritual fundamental para o mecanismo de funcionamento da Vida, nos olhos da Umbanda, são “elementos espirituais sagrados” para nós, tanto quanto os pontos de força em que habitam.


Energia

Ué...energia é sagrada? Como assim?

Energia é o elemento primordial de toda a estrutura da nossa Religião. Na verdade, energia vai muito além do que a Umbanda nos ensina. Mas, para não nos prolongarmos mais do que gostaríamos, vamos ficar só no âmbito espiritual da coisa.
Os Orixás são essencialmente, energia. Recebemos no Terreiro Espíritos Falangeiros de Orixá, que são Espíritos que manipulam estas energias em nós e no mundo. Os Guias são Espíritos que se enquadram em estereótipos para manipularem energias específicas. Nossas guias são condensadores de energia, com a finalidade de atrair ou repelir determinadas energias. Nossos pontos de força são condensadores de energia. Nosso defumador é um dissipador de energia. Nosso corpo precisa de energia tanto no físico quanto no espiritual para se nutrir. Nossa Aura, na verdade é o nosso campo energético; e este campo energético precisa estar o mais equilibrado possível para que as manifestações espirituais sejam satisfatórias. Resumindo o enredo, tudo na Umbanda gira em torno do cuidado e da manipulação de energias. Isso, repito, somente no âmbito espiritual. No âmbito físico (não resisti...rs), a ciência nos ensina que toda a matéria é energia condensada. Ou seja: velas, sementes, contas, frutas, óleos, essências, flores, ervas, fitas, etc., tudo possui energia condensada, passível de manipulação pelo espiritual. Então, energia, para nós, é mais que sagrada...é imprescindível.




§  ELEMENTOS SAGRADOS FÍSICOS.


Para começar, precisamos retomar o que significa “físicos” aqui pra nós. Como físico, eu entendo que são os elementos no físico, que possuem uma importância espiritual. Dito isso, prossigamos:


Altar

  Vamos começar pelos pontos de força. O Altar, ou Congá, ou Gongá, é um dos principais pontos de força do Terreiro. Possui toda a Coroa Espiritual do Terreiro. É onde se encontram os elementos de todas as Linhas da nossa Casa, de onde e para onde correm toda a energia da Gira.
É um dos pontos de força mais importantes, pois tem como função, além de nos doar e receber de nós energia, equilibrar a Coroa dos médiuns. O ritual de “bater cabeça”, por exemplo, tem um significado muito bonito, que consiste no médium “entregar” sua Coroa para que esta se sintonize com a Coroa da Casa. Quando fazemos o ritual de bater cabeça antes de iniciar a Gira, estamos entregando a nossa Coroa, confiando nas Energias que regem a Casa, para que nada nos aconteça que esteja fora do permitido pela Coroa da Casa. É um ritual que deve ser feito com o máximo de respeito, sempre que o médium sentir algum desequilíbrio ou vibração desconhecida, no momento da Gira. Com isso, devemos todo o respeito e reverência ao nosso Altar.


Porteira

A Porteira é o ponto de força responsável pela proteção do Terreiro. É onde firmamos os Exus responsáveis pela entrada e saída de espíritos, que seguram as demandas, que coordenam os Exus dos médiuns. Como ninguém gostaria de ficar desprotegido, principalmente em se tratando de questões espirituais, onde poucos de nós vemos o que acontece, nossa Porteira deve ser tratada com todo o respeito e reverência.

Roncó

O Roncó é o ponto de força onde a Coroa dos médiuns é tratada de forma individualizada. É onde se encontram as proteções destas Coroas. É a parte mais Sagrada do Terreiro. Mesmo que simples no material, possui tremenda importância espiritual. Somente por ser o local onde firmamos nosso Anjo da Guarda, já merece todo o respeito e reverência.

Roupa Branca

Nossa roupa branca, ou roupa de santo, é o nosso instrumento de trabalho. Quando pisamos no Terreiro e colocamos o branco, a espiritualidade entende que estamos prontos para trabalhar. O curioso é que esse trabalho não acontece somente quando a Gira abre, mas assim que pisamos no Terreiro e colocamos o branco! Por este motivo, TUDO que for feito dentro do Templo, para o Templo ou para os trabalhos que ali acontecerão, devem ser feitos com o nosso uniforme. Desde varrer o chão do salão a preparar um Maleme.
Além disso, deve-se apontar a importância de termos alguns cuidados com o nosso uniforme. Ele deve estar sempre limpo, bem apresentável, deve ser discreto, sem decotes e transparências, etc. O recomendável é que se lave em separado da nossa roupa cotidiana.
Então, para os homens: Calça branca, blusa branca, ou jaleco branco. Para as mulheres: Calça branca, saia branca por cima da calça, blusa branca ou jaleco branco.
Ainda sobre o nosso uniforme, vale ressaltar a importância de dois elementos muito importantes dentro da nossa ritualística:

·         Toalha: Utilizada para batermos cabeça, cobrirmos alguns Orixás no momento da manifestação, e para nos proteger de cargas negativas, quando algum médium manifesta espíritos negativos. Ou seja, quando esta manifestação ocorre, devemos amparar o médium com a nossa Toalha cobrindo nossas mãos, para não absorvermos desta energia. Lembrando que a Toalha é pessoal e intransferível. Somente a Toalha do Sacerdote pode ser “emprestada” para o médium que não a possua no momento da Gira.
·         Pano de Cabeça (Ojá): Elemento de proteção da nossa Coroa. Usada nos trabalhos de limpeza de Coroa ou quando estivermos sentindo vibrações complicadas e que se faça necessário proteger a Coroa destas energias, tanto durante a Gira quanto fora dela. Também é pessoal e intrasferível. Cada médium com o seu Ojá.

Adjá

É a ferramenta usada pelo Sacerdote para chamar. Usa-se para chamar a atenção da Corrente para o início da Gira, para chamar o Guia/Orixá para o nosso Plano, etc. É de extrema importância na nossa ritualística, e deve ser obedecido sempre, e imediatamente.

Tambor

O Tambor tem por finalidade alterar a vibração no ambiente, juntamente com os pontos cantados, para que a gente se sintonize com o espiritual. Em outras palavras, também tem a função de chamar, só que de uma forma mais completa. O Tambor, junto com os pontos cantados, nos indica o momento em que o Guia deve se manifestar, com os pontos de chamada, sustenta os trabalhos, com os pontos de trabalho e de demanda, e nos indica o fim da Gira com os pontos de subida.
Apesar de não ser indispensável para os Trabalhos Espirituais, o Tambor é uma grande ferramenta para a manutenção da nossa sintonia com o Espiritual, e merece todo o nosso respeito e reverência.

Fios de Conta (guias)

Nossas guias tem como finalidade principal nos conectar com as energias espirituais. As guias dos Orixás e dos Guias contém as energias deles condensadas ali, e funcionam como uma chave para sintonizar nossos Pontos de Força a estas energias.
Atém disso, temos guias de proteção, que tem a finalidade de repelir determinadas energias. Ou seja, as guias são uma grande ferramenta de manipulação de energia, e requerem muito cuidado, pois a maioria delas ficam em contato direto com o nosso corpo. Estes cuidados são: não deixa-las em qualquer lugar, de qualquer jeito; não coloca-las em contato com elementos alheios à sua finalidade, como dinheiro, cigarro, etc; não leva-las ao banheiro quando formos fazer nossas necessidades; não fumar, beber, ter contatos sexuais, com as guias no pescoço; não compartilhar, emprestar, entregar para que outra pessoa use nossas guias; Protegê-las sempre de contatos externos, quando não estiverem em uso, etc.


Nossa Religião é toda ritualística, e tudo o que fazemos ou utilizamos em nossos rituais é S
agrado. Não vamos nos alongar, pois este texto já está maior do que o habitual. Este é um assunto amplo, que merece ser retomado ainda por várias vezes.
O que é preciso apontar é a necessidade de termos responsabilidade com o nosso Sagrado. A Umbanda nos chama para o trabalho, mas para um trabalho consciente. Maturidade e respeito são as ferramentas essenciais para que não cometamos o erro de profanar (tornar profano, manchar, macular) nossa Religião. Nós somos as mãos usadas para que tudo aconteça no Templo, mas temos parte dessa responsabilidade nas nossas costas! Vamos cuidar do nosso Sagrado, zelar por ele a todo tempo, e não apenas quando nos convém. O nosso Sagrado nos acompanha sempre, e não somente nos dias de Gira. É preciso respeitar e zelar pelos nossos Guias e Orixás a todo tempo; respeitar e zelar pelo nosso uniforme, nossas guias, nossas imagens, nosso Altar, nosso Roncó, enfim, respeitar e zelar pela nossa Religião. Cada um de nós escolheu este caminho para trilhar, e precisamos ter consciência de que escolhemos o caminho completo, com todo o perfume e os espinhos que ele nos traz. Que cada um de nós possa entender e exercer a responsabilidade que é carregar o Sagrado a cada abrir de olhos. Assim, sempre estaremos firmes e sintonizados com toda a Força deste presente Sagrado de Deus para nós; a nossa Umbanda.

Saravá!

Pai Eduardo Salles