quinta-feira, 8 de junho de 2017

Qual a missão da Umbanda em nossas vidas?

Salve salve, povo de Oxalá!

          E lá vamos nós para mais um resultado de dinâmica... e agora, as perguntas foram:

1° qual a missão da Umbanda na sua vida?

2° conhecendo um pouco do funcionamento da nossa Casa, qual a missão do TUBA na sua vida?

          E o retorno que eu recebi da Corrente foi, digamos, interessante. Alguns médiuns aprenderam a ter aquela coragem de admitir não saberem qual é a missão da Umbanda nas suas vidas. Isso me fez pensar bastante. Este “não saber” é diferente do habitual. Quando não sabemos o que é o Roncó, ou para que serve o ritual de Defumação, ou o que é Sacerdócio, não sabemos conceitos, e isso é comum, porque na maioria das vezes, não sabemos porque ninguém nos ensinou. Mas, quando não sabemos qual o sentido de uma Religião na nossa vida... estamos ali freqüentemente, passando por Rituais que são Sagrados, aprendendo a lidar com uma outra realidade, uma outra forma de ver a vida, mas não sabemos qual o sentido disso tudo na nossa vida... me deixou bastante reflexivo. Mas, vamos ao resultado da nossa dinâmica.
          Muitos apontaram a Umbanda com a missão de nos proporcionar humildade, simplicidade, companheirismo, irmandade, enfim, nos proporcionar uma Reforma Íntima. Realmente, a Umbanda nasceu do preconceito. O mesmo preconceito que há tempos vemos no mundo físico, começou a existir também no mundo espiritual. Espíritos simples, sem títulos, eram marginalizados, como se nada tivessem a acrescentar. O próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas, ao baixar na Casa Espírita, sofreu este preconceito, e nos deixou como Ordem, Fundamento de Umbanda, que sempre daríamos espaço para todos os espíritos. “Aprenderemos com os que sabem mais, ensinaremos aos que sabem menos, e a ninguém viraremos as costas.” Claro que esta não foi a única causa do nascimento da nossa Umbanda. Seu mistério é bem maior. Mas este era o contexto do seu nascimento. Arquétipos antes marginalizados, se tornaram o pilar de toda a Religião. Caboclos, Pretos Velhos e Crianças são as principais Linhas de Trabalho da nossa amada Umbanda, e trabalham sem distinção de gênero, cor, posição social... Um Preto Velho não é mais carinhoso com quem é mais afortunado, nem sorri mais para os negros que para os brancos. Todos são iguais. Nem os próprios Pretos Velhos são necessariamente negros, e alguns nem velhos são. Mas também se igualam neste arquétipo, porque no espiritual não pode haver distinção. Pelo menos não na Umbanda. Então, se os espíritos têm todo este cuidado conosco, de manter toda a carga do seu arquétipo para tratar a todos da mesma forma, como podemos permanecer prepotentes, arrogantes, egocêntricos, diante de um Preto Velho? Se os Caboclos nos trazem força e vigor, respeitando os mesmos critérios de não distinção, mesmo tendo nas suas fileiras espíritos de índios, negros, pobres, ricos, médicos, padres... Se, diante de nós, eles tem o cuidado de manifestarem a força do índio por respeito e humildade, como podemos permanecer mentirosos, melindrosos, vitimados diante deles? E diante dos milhares de espíritos que têm o cuidado de se manifestarem como Crianças para nos lembrar da alegria e da pureza, como podemos continuar com interesses inescrupulosos?
          A Umbanda nos chama para a alegria das Crianças, a força e o vigor dos Caboclos, e a Sabedoria e Humildade dos Pretos Velhos. Isso está na sua origem. E quando a aceitamos em nossa vida de coração aberto, quando tomamos para nós a Bandeira de Oxalá, é muito difícil não nos rendermos a essa transformação. Ainda mais quando somos médiuns de incorporação, quando cedemos nosso corpo para esta manifestação... Mas tudo isso só é possível quando abrimos o nosso coração.
          E no meio disso tudo, qual seria a missão do TUBA? Esta é a resposta mais simples de dar. Nossa missão é nos manter o mais próximo possível das determinações do Caboclo das Sete Encruzilhadas para a formação da Umbanda: ser uma Casa de Caridade. Um Hospital Espiritual. Um local de Amparo para os que nos procuram. Um lugar de Respeito, na forma mais ampla possível do termo. Respeito à Natureza, que é a maior parte do nosso Sagrado, respeito ao Ser Humano, respeito aos Seres Espirituais, sejam eles de luz ou ignorantes. Nossa missão é, ao mesmo tempo em que mantemos a Casa atuando na Caridade, preparar médiuns para que possam ser também instrumentos de Caridade; iniciar estes médiuns na realidade umbandista, colaborar para a sua Reforma Íntima, doutrinar, orientar, exortar, alimentar, fortalecer e, finalmente, libertar. Libertar para nós significa consagrar para o trabalho. Um trabalho que deve ser impreterivelmente de Caridade.
          Então...nossa Religião é linda. Com toda a complexidade dos seus fundamentos, ela é simples; nos pede para sermos simples. E acredito que a nossa maior dificuldade é sermos tão simples. Eu fiquei feliz em ler e ouvir o relato de alguns irmãos (bem menos irmãos do que eu gostaria, eu confesso), apontando essa riqueza da nossa Umbanda. Mas...será que estamos realmente dispostos a passar pela tal Reforma Íntima? Será que realmente estamos dispostos a nos despir de nosso orgulho, do nosso egocentrismo, das nossas defesas e mentiras, das máscaras que muitas vezes precisamos criar para sobreviver nesse mundo selvagem em que vivemos? Será que estamos dispostos a descer do altar no qual muitas vezes nos colocamos, de parar um pouco de arrotar aquela santidade que já não convence mais? Será que estamos dispostos a sermos apontados pelos Guias quando julgamos nosso irmão? Será que estamos dispostos a sermos doutrinados quando reparamos que o irmão “recebe santo” de forma engraçada, ou quando reparamos que a roupa que o nosso irmão não é tão bonita quanto a nossa? Será que estamos prontos para a exortação quando vamos para a Gira de corpo sujo? E o pior, será que teremos coragem de afirmar que estamos errados diante do Espiritual, diante do nosso Sagrado? Será que estamos dispostos a descer do salto alto, da roupa de marca, da maquiagem e do perfume importado para tomarmos um café amargo no coité com um Preto Velho? Será que realmente estamos dispostos a abrir mão da prepotência de achar que o Guia tem o dever moral de falar tudo o que acontece na nossa vida sem que abramos a boca? Onde fica a humildade de reconhecermos que estamos pedindo ajuda, e que isso não é motivo de vergonha? O discurso poderia continuar por mais alguns parágrafos, mas o nosso objetivo não é só apontar as nossas falhas. É comum termos estas posturas, de verdade. Somos seres humanos, e estamos aqui para aprender. Mas será que estamos realmente dispostos a aprender?
          Eu fico feliz em ouvir e ler relatos tão bonitos sobre a nossa Umbanda, sobre como ela DEVE ser importante na nossa vida, sobre as transformações e os ensinamentos que ela DEVE trazer para nós. Mas o fundamental é a gente se abrir pra isso tudo. Reforma Íntima é um ato de muita coragem. Mostrar o que há de mais torto em nós, aquilo que muitas vezes a gente esconde a vida inteira, para que nós mesmos nos consertemos, exige muita coragem. Ao meu ver, o pecado não está no erro. Não está na prepotência, na arrogância, na mentira, na soberba... Ao meu ver, o pecado está em alimentar diariamente e de forma consciente a prepotência, a arrogância, a mentira, a soberba... Somos gente, e gente erra. Gente sofre, chora, sente, deseja... não somos chamados para deixar de ser gente. A Umbanda nos chama para reconhecermos que somos gente e tentarmos nos melhorar enquanto gente, e um dia sermos instrumento para que mais gente passe por esse processo.
          Que tenhamos a consciência que estamos pisando num chão Sagrado, que não é mais nem menos Sagrado que o chão do vizinho. E pisamos no chão Sagrado para crescermos como gente e como espírito. Que tenhamos a humildade de pisar no chão Sagrado com os pés descalços, mas também com o coração aberto. Que tenhamos a consciência de que a Caridade que a gente almeja na Umbanda é para toda a vida, em todos os momentos da vida. É estender a mão para um consulente que precisa, mas antes, estender a mão para um irmão, pai, mãe, primo, vizinho... É fazer campanha de alimentos para um consulente que não tem o que comer, mas se preocupar em dividir o que você tem com aquele que está do seu lado. É entender que você é muito importante, que você tem uma missão linda na Terra, mas que essa missão REALMENTE não é nem melhor e nem pior do que a do seu irmão.
          Mais uma vez ressalto, Reforma Íntima é um ato de muita coragem. É coisa muito séria. Como disse Caboclo Mirim, Umbanda é coisa séria para gente séria. Então, que tenhamos a seriedade necessária para estarmos abertos a tudo que a Umbanda tem a nos ensinar. Que possamos nos transformar a cada dia, com a alegria da nossa Beijada, com o vigor dos nossos Caboclos, a sabedoria e humildade dos nossos Pretos Velhos, o equilíbrio e a justiça de Xangô, o amor de Oxum, a ação de Ogum, a consciência de Iemanjá, o conhecimento de Oxosse, o movimento de Iansã, a resignação de Nana, a transformação de Omulu e a fé de Oxalá. Mas, que essa mudança não aconteça só com a força de um banho de ervas, ou com uma oferenda para os Orixás. Que essa transformação aconteça de dentro para fora também...com a força dos nossos braços.
          Deus, Zambi, Olorum, Tupã, como queiram, foi infinitamente sábio ao nos presentear com amigos espirituais, os nossos Guias, e com uma Natureza linda e cheia de energia, mas exige de nós o coração aberto para a mudança e o esforço para alcançá-la a cada dia. Que Zambi nos fortaleza, nos acalme, nos ampare e nos encaminhe para essa mudança.


Pai Eduardo Salles.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Sacerdócio


         Salve Salve!!!

Estamos iniciando na nossa Corrente um ciclo de dinâmicas, onde vamos trocar conhecimentos sobre os mais diversos temas dentro da Umbanda. Funciona assim: eu lanço uma questão e todos os filhos devem comentar de forma privada comigo. Eu vou recolher todas as informações, e depois eu faço um feedback baseado na reflexão deles. O nosso esforço será o maior possível para que esta dinâmica seja semanal, e semanalmente farei as postagens aqui no nosso Blog sobre o resultado da dinâmica. E o nosso primeiro tema foi SACERDÓCIO.
Recebi comentários dos mais diversos. Mas o mais corajoso foi o de um médium que com muita tranqüilidade me disse que não sabia o que era sacerdote. Fiquei encantado com a transparência e a humildade dele. Eu entendo que ninguém nasce sabendo tudo, e por isso estamos criando ferramentas para buscarmos conhecimento, e esse comentário pra mim foi um dos mais bonitos, pois me falou da índole do médium. Numa dinâmica em que apenas quase a metade dos médiuns participaram, depois de repetidos pedidos, este médium me respondeu prontamente que não sabia, com toda a humildade. Realmente me fez refletir. Um ato de coragem desse faz com que esse médium não saiba por cinco minutos, mas pela coragem, certamente vai buscar aprender, diferente dos que se omitiram... Cada um sabe até onde quer ir, até onde quer aprender, até onde quer crescer na vida, e acho que a primeira lição de um Sacerdote é estar aqui, tanto para os que querem quanto para os que não querem mais. Mas vamos seguindo.
No dicionário, a definição de Sacerdote é essa:

substantivo masculino  Ministro que oferecia vítimas à divindade e cuidava dos assuntos religiosos.
Aquele que ministra os sacramentos da Igreja; padre.
[Figurado] Aquele que tem profissão honrosa ou missão nobre: os sacerdotes do magistério.

          Então, já pela definição clássica do termo, podemos entender que o Sacerdote é aquela pessoa responsável por tratar de questões espirituais. Parece bem simples, numa primeira vista. Mas, na realidade, este é um tema tão complexo que caberia num livro inteiro. Cada religião tem seu contexto prático, e seus Sacerdotes são preparados de forma específica, tendo uma forma de ação social específica.
          Nos atendo para a nossa Umbanda, o Sacerdote é o responsável por toda a organização física do Templo, além de intermediar a Direção Espiritual deste com toda a Corrente e Assistência. Sacerdote é um médium com um chamado além. Ele deve aprender como todos os médiuns, mas deve aprender para ensinar.
          Nossa religião usa de forma muito bela a terminologia Pai/Mãe de Santo. A idéia de gerar, cuidar, orientar, amparar, exortar e depois entregar para o mundo, no âmbito espiritual é fascinante. Vale ressaltar que no TUBA, não iniciamos ninguém. Não raspamos, nem catulamos, nem fazemos cabeça, nada disso! Nosso gerar é um gerar de experiências. Iniciamos os médiuns numa prática espiritual, uma forma de entendimento dessa realidade extremamente complexa e organizada, que nos influencia muito mais do que a gente consegue imaginar. É nesse campo, no das idéias e no das coisas espirituais, que trabalhamos aqui. Um filho nosso vai aprender a lidar consigo mesmo, enquanto ser espiritual, tentar entender quais são as energias que o acompanham, e como essas energias influenciam o seu dia a dia. Vai se preparar para usar essa energia a seu favor, num primeiro momento, e a favor daqueles que nos procuram pedindo ajuda.  Entendemos que a Coroa Espiritual dos médiuns já vem formada, e o nosso papel é somente equilibrar as energias dessa Coroa durante seu desenvolvimento espiritual, e depois a confirmamos, e consagramos os Sacerdotes com CHAMADO.
          Chamado? Então não é qualquer médium que pode se tornar sacerdote? Não. O Chamado Sacerdotal é ago que nos acompanha desde antes do nascimento. Exige uma preparação espiritual diferente, um trabalho intelectual, emocional e energético diferente e constante, e por mais tempo que um médium tenha de prática espiritual, se não possui o chamado, não se torna um Sacerdote de fato e de direito. Quer dizer, não no TUBA. Não posso responder por toda a nossa Umbanda, e devemos sempre resguardar o devido respeito aos fundamentos diferentes do nosso. Aqui, entendemos que é um cargo muito importante, que exige muito de quem o assume, e que precisa ter seu Chamado confirmado pelos Guias da Casa para que seja consagrado NA NOSSA CASA. Em outras palavras, não é o tempo de Umbanda que faz um Sacerdote, mas o seu Chamado. Claro que o tempo é fundamental para que a gente adquira experiência, pra que se conheça o necessário dos fundamentos, mas o preparo para desempenhar esse cargo vem do espiritual, sempre.
Outro ponto importante de se ressaltar é que, na nossa Casa, todo o Caminho Espiritual é fundamental para o desenvolvimento de todo e qualquer médium, inclusive dos que tenham o Sacerdócio em seu caminho. Sacerdote é médium como outro qualquer, e precisa ser gerado, ensinado, amparado, exortado e consagrado como todos os outros médiuns. Não é a anunciação do seu Chamado que faz o Sacerdote, mas a aceitação do seu Chamado e o devido Preparo nos fundamentos da nossa Casa.
Carregar a responsabilidade de amparar e orientar não só os Consulentes, mas todos os médiuns que se achegarem pedindo ajuda é algo muito sério, e como já dissemos, exige muito de nós. Muito autocontrole, muita auto avaliação, transformação ou pelo menos domínio da nossa personalidade... Ter o cuidado do bom prognóstico e do bom diagnóstico. Precisamos aprender a identificar as falhas e necessidades dos filhos, mas a orientar o melhor tratamento, a melhor correção. E isso é muito difícil. É difícil ver um médium cometendo atrocidades espirituais e ter o cuidado de olhar pra ele como uma pessoa que sofre e precisa de ajuda, e uma ajuda que não pode ferir nem assustar, porque a nossa maior responsabilidade é com o crescimento deste médium...ver a mentira estampada nas palavras de um médium e ter que lutar contra a sua própria personalidade enérgica, de um bom filho de Xangô, para deixar até onde este médium é capaz de ir, e ainda sorrir para ele como se nada soubesse...porque se esse médium resolver abandonar sua caminhada por uma palavra inconsequente, ou uma atitude inconsequente do seu Sacerdote, o preço seria muito alto... Uma grande responsabilidade. Da mesma forma que todos nós vamos prestar conta dos nossos atos, seja encarnado ou desencarnado, um Sacerdote vai prestar conta de cada vida que se chegou a ele e ele amparou ou não...Para tanto, a reforma íntima deve ser a melhor amiga do Sacerdote.
Eis mais um grande exercício, não só para os Sacerdotes, mas para todos os umbandistas: não-endeusamento. O que é isso? O contato com o espiritual nos permite experiências que fogem do natural, e o maior erro que nós umbandistas podemos cometer é acharmos que nós somos especiais, super poderosos, temos os Guias mais fortes, e por isso estamos acima do resto da humanidade. Endeusar significa tentar se tornar Deus. Seria um sinônimo, digamos que espiritual, para a prepotência.
O espiritual acaba se tornando natural quando o entendemos. Guia não faz mágica. Só usa de forma mais eficaz as Leis Espirituais, que nós muito mal conhecemos. Nossa função, como médiuns, é única e exclusivamente sermos mediadores, instrumentos. Um violão, por mais bem afinado que seja, por melhor que sejam as suas cordas, e por mais bonitas que sejam as músicas que executa, nunca se executa sozinho. Sem um violonista, o violão não faz nada. Mas isso não diminui a beleza do violão, porque também sem ele, o violonista não toca! Somos instrumento, e a beleza da nossa música sempre vai depender do bom relacionamento com os nossos Guias. Mas nunca pode nos faltar a humildade de tentarmos ser apenas bons instrumentos. E em se tratando de Sacerdotes, a responsabilidade é dobrada. Como ensinar humildade, caridade, fé em Deus, se eu sou prepotente, egocêntrico, tento subjugar a Espiritualidade às minhas vontades? Como ensinar meus filhos o que eu não aprendi? Humildade, caridade, fé em Deus, são pilares da Umbanda. Nada se produz no terreiro sem estes ingredientes básicos. Pelo menos, nada de bom, de proveitoso pro nosso crescimento. E um Sacerdote precisa ter esse pensamento estampado na pele, exercitando diariamente sua fé no Alto, se olhando no espelho e reconhecendo que a gente ta aqui porque também precisa crescer, que não somos melhores que ninguém, que também precisamos de caridade, muitas vezes, mas que ainda assim, os Espíritos nos escolheram como instrumento e sabem driblar nossos vícios e imperfeições pra tirar belos acordes.
Dito tudo isso, vamos à maior dificuldade de um Sacerdote: sacrifício. Com minha Mãe de Santo, aprendi que um umbandista não se sustenta na religião sem espírito de sacrifício. E um Sacerdote não sustenta uma Corrente, tenha ela o tamanho que for, sem o espírito de sacrifício marcado na pele do lado da humildade. Sacerdote abre mão de festas, descanso, férias, feriado, final de semana, porque entende que tem um chamado e o aceita, e esse chamado o coloca de frente de outras vidas. Quando seus filhos precisam, ele tem que estar ali pra amparar. Precisa ter estrutura para se sustentar e sustentar aqueles que estão sob seus cuidados, e isso exige um contato espiritual bem mais intenso do que o comum. São Guias baixando quando chegamos cansados do trabalho, para passar rituais, orientações sobre seus filhos, são demandas espirituais constantes contra as quais precisamos aprender a lutar. São as necessidades dos nossos filhos, que precisamos atender em alguns casos, negar em outros, e em alguns casos, apenas ouvir. E ainda assim, sacrificar as suas dores e as suas inseguranças, porque muitas vezes as pessoas simplesmente esquecem que você é um ser humano que também sofre, acorda mal humorado, tem dor de barriga...e às vezes, nós precisamos esquecer também.
Sacerdote não sabe tudo, e não foi chamado para saber tudo! Não é vergonha afirmar isso. Nós somos só instrumento. Como todos os médiuns, estamos aqui pra aprender, com o diferencial que temos que aprender pra nós e pros que estão sob nossos cuidados. E a nossa maior fonte de conhecimento SEMPRE será NOSSOS GUIAS! Eles fazem toda a magia acontecer na nossa vida, e quando assumimos o Sacerdócio, eles fazem toda a magia acontecer em toda a Egrégora... A Umbanda NÃO SE SUSTENTA SEM HUMILDADE! Sem a humildade de que não sabemos, não fazemos, não somos semideuses... sem o reconhecimento de que somos instrumento e que não precisamos de muito, só do coração e ouvidos abertos para captar as mensagens espirituais. Precisamos somente da coragem de assumir uma responsabilidade no físico, contando com o amparo do espiritual. Coragem pra lavar banheiro, secar chão quando o terreiro enche, esperar alguns dos seus quarenta filhos pra te ajudar e só chegarem três. Enfrentar as críticas, as risadas, a descrença dos que mais eram importantes pra você, as demandas que você nem sabe de onde vai vir, mas fazer tudo isso com a segurança naqueles que te acompanham desde antes de você nascer...a certeza de que você pode sofrer por algumas horas, alguns dias, algumas semanas, mas com a fé de que tem alguém que está segurando muito mais dessa pemba pra você não sofrer mais... é você chegar no terreiro várias horas antes de começar a Gira pra limpar o chão e seus filhos não pisarem na sujeira, e eles chegarem e nem se preocuparem se tem vela pra firmar...mas mesmo assim você faz, porque você não faz por eles, para que eles te agradeçam...mas você faz por Oxalá, que te chamou pra isso...e você vê seus filhos crescendo espiritualmente...melhorando como pessoa, aprendendo a ter fé, tendo experiências espirituais, crescendo...e dá um aperto gostoso no coração...um sentimento de que daqui a pouco ele vai estar caminhando sozinho...e mesmo que ele não reconheça a sua participação na caminhada, você fica eternamente grato por poder fazer parte disso tudo.
Que o real sentido da Umbanda seja semeado e cuidado no coração de todos os filhos de Benedito, mas que os Sacerdotes em potencial do TUBA nunca se esqueçam de marcar este sentido na pele, para que nunca esqueçam, para que não entrem na estatística de Sacerdotes frustrados com a sua religião, para que seus Terreiros não fechem por tristeza e indignação.
 Umbanda é Fé, Amor e Caridade. Fé, quando tudo indica que vai dar errado. Amor, quando a única coisa que você recebe em troca é a ingratidão. Caridade quando você não tem quase nada, mas atende quem tem menos ainda, e tira do seu pouco para dividir com que não tem. Umbanda é Fé, Amor e Caridade quando tudo vai bem, mas quando tudo vai mal também. Que nossos Sacerdotes aprendam esse ensinamento, guardem no seu mais sagrado, mas que multipliquem essa semente em todos os que os procurarem.
Oxalá nos abençoe, hoje e sempre.

Saravá!

Pai Eduardo Salles.