Salve salve, povo de Oxalá!
E lá vamos nós para mais um resultado
de dinâmica... e agora, as perguntas foram:
1° qual a
missão da Umbanda na sua vida?
2° conhecendo
um pouco do funcionamento da nossa Casa, qual a missão do TUBA na sua vida?
E o retorno que eu recebi da Corrente
foi, digamos, interessante. Alguns médiuns aprenderam a ter aquela coragem de
admitir não saberem qual é a missão da Umbanda nas suas vidas. Isso me fez pensar
bastante. Este “não saber” é diferente do habitual. Quando não sabemos o que é
o Roncó, ou para que serve o ritual de Defumação, ou o que é Sacerdócio, não
sabemos conceitos, e isso é comum, porque na maioria das vezes, não sabemos
porque ninguém nos ensinou. Mas, quando não sabemos qual o sentido de uma
Religião na nossa vida... estamos ali freqüentemente, passando por Rituais que
são Sagrados, aprendendo a lidar com uma outra realidade, uma outra forma de
ver a vida, mas não sabemos qual o sentido disso tudo na nossa vida... me
deixou bastante reflexivo. Mas, vamos ao resultado da nossa dinâmica.
Muitos apontaram a Umbanda com a
missão de nos proporcionar humildade, simplicidade, companheirismo, irmandade,
enfim, nos proporcionar uma Reforma Íntima. Realmente, a Umbanda nasceu do
preconceito. O mesmo preconceito que há tempos vemos no mundo físico, começou a
existir também no mundo espiritual. Espíritos simples, sem títulos, eram
marginalizados, como se nada tivessem a acrescentar. O próprio Caboclo das Sete
Encruzilhadas, ao baixar na Casa Espírita, sofreu este preconceito, e nos
deixou como Ordem, Fundamento de Umbanda, que sempre daríamos espaço para todos
os espíritos. “Aprenderemos com os que sabem mais, ensinaremos aos que sabem
menos, e a ninguém viraremos as costas.” Claro que esta não foi a única causa
do nascimento da nossa Umbanda. Seu mistério é bem maior. Mas este era o
contexto do seu nascimento. Arquétipos antes marginalizados, se tornaram o
pilar de toda a Religião. Caboclos, Pretos Velhos e Crianças são as principais
Linhas de Trabalho da nossa amada Umbanda, e trabalham sem distinção de gênero,
cor, posição social... Um Preto Velho não é mais carinhoso com quem é mais
afortunado, nem sorri mais para os negros que para os brancos. Todos são
iguais. Nem os próprios Pretos Velhos são necessariamente negros, e alguns nem
velhos são. Mas também se igualam neste arquétipo, porque no espiritual não pode
haver distinção. Pelo menos não na Umbanda. Então, se os espíritos têm todo
este cuidado conosco, de manter toda a carga do seu arquétipo para tratar a
todos da mesma forma, como podemos permanecer prepotentes, arrogantes,
egocêntricos, diante de um Preto Velho? Se os Caboclos nos trazem força e
vigor, respeitando os mesmos critérios de não distinção, mesmo tendo nas suas
fileiras espíritos de índios, negros, pobres, ricos, médicos, padres... Se,
diante de nós, eles tem o cuidado de manifestarem a força do índio por respeito
e humildade, como podemos permanecer mentirosos, melindrosos, vitimados diante
deles? E diante dos milhares de espíritos que têm o cuidado de se manifestarem
como Crianças para nos lembrar da alegria e da pureza, como podemos continuar
com interesses inescrupulosos?
A Umbanda nos chama para a alegria das
Crianças, a força e o vigor dos Caboclos, e a Sabedoria e Humildade dos Pretos
Velhos. Isso está na sua origem. E quando a aceitamos em nossa vida de coração
aberto, quando tomamos para nós a Bandeira de Oxalá, é muito difícil não nos
rendermos a essa transformação. Ainda mais quando somos médiuns de
incorporação, quando cedemos nosso corpo para esta manifestação... Mas tudo
isso só é possível quando abrimos o nosso coração.
E no meio disso tudo, qual seria a
missão do TUBA? Esta é a resposta mais simples de dar. Nossa missão é nos manter
o mais próximo possível das determinações do Caboclo das Sete Encruzilhadas
para a formação da Umbanda: ser uma Casa de Caridade. Um Hospital Espiritual.
Um local de Amparo para os que nos procuram. Um lugar de Respeito, na forma
mais ampla possível do termo. Respeito à Natureza, que é a maior parte do nosso
Sagrado, respeito ao Ser Humano, respeito aos Seres Espirituais, sejam eles de
luz ou ignorantes. Nossa missão é, ao mesmo tempo em que mantemos a Casa
atuando na Caridade, preparar médiuns para que possam ser também instrumentos
de Caridade; iniciar estes médiuns na realidade umbandista, colaborar para a
sua Reforma Íntima, doutrinar, orientar, exortar, alimentar, fortalecer e,
finalmente, libertar. Libertar para nós significa consagrar para o trabalho. Um
trabalho que deve ser impreterivelmente de Caridade.
Então...nossa Religião é linda. Com
toda a complexidade dos seus fundamentos, ela é simples; nos pede para sermos
simples. E acredito que a nossa maior dificuldade é sermos tão simples. Eu
fiquei feliz em ler e ouvir o relato de alguns irmãos (bem menos irmãos do que
eu gostaria, eu confesso), apontando essa riqueza da nossa Umbanda. Mas...será
que estamos realmente dispostos a passar pela tal Reforma Íntima? Será que
realmente estamos dispostos a nos despir de nosso orgulho, do nosso
egocentrismo, das nossas defesas e mentiras, das máscaras que muitas vezes precisamos
criar para sobreviver nesse mundo selvagem em que vivemos? Será que estamos
dispostos a descer do altar no qual muitas vezes nos colocamos, de parar um
pouco de arrotar aquela santidade que já não convence mais? Será que estamos
dispostos a sermos apontados pelos Guias quando julgamos nosso irmão? Será que
estamos dispostos a sermos doutrinados quando reparamos que o irmão “recebe
santo” de forma engraçada, ou quando reparamos que a roupa que o nosso irmão
não é tão bonita quanto a nossa? Será que estamos prontos para a exortação
quando vamos para a Gira de corpo sujo? E o pior, será que teremos coragem de
afirmar que estamos errados diante do Espiritual, diante do nosso Sagrado? Será
que estamos dispostos a descer do salto alto, da roupa de marca, da maquiagem e
do perfume importado para tomarmos um café amargo no coité com um Preto Velho?
Será que realmente estamos dispostos a abrir mão da prepotência de achar que o
Guia tem o dever moral de falar tudo o que acontece na nossa vida sem que
abramos a boca? Onde fica a humildade de reconhecermos que estamos pedindo
ajuda, e que isso não é motivo de vergonha? O discurso poderia continuar por
mais alguns parágrafos, mas o nosso objetivo não é só apontar as nossas falhas.
É comum termos estas posturas, de verdade. Somos seres humanos, e estamos aqui
para aprender. Mas será que estamos realmente dispostos a aprender?
Eu fico feliz em ouvir e ler relatos
tão bonitos sobre a nossa Umbanda, sobre como ela DEVE ser importante na nossa
vida, sobre as transformações e os ensinamentos que ela DEVE trazer para nós.
Mas o fundamental é a gente se abrir pra isso tudo. Reforma Íntima é um ato de
muita coragem. Mostrar o que há de mais torto em nós, aquilo que muitas vezes a
gente esconde a vida inteira, para que nós mesmos nos consertemos, exige muita
coragem. Ao meu ver, o pecado não está no erro. Não está na prepotência, na
arrogância, na mentira, na soberba... Ao meu ver, o pecado está em alimentar
diariamente e de forma consciente a prepotência, a arrogância, a mentira, a
soberba... Somos gente, e gente erra. Gente sofre, chora, sente, deseja... não
somos chamados para deixar de ser gente. A Umbanda nos chama para reconhecermos
que somos gente e tentarmos nos melhorar enquanto gente, e um dia sermos
instrumento para que mais gente passe por esse processo.
Que tenhamos a consciência que estamos
pisando num chão Sagrado, que não é mais nem menos Sagrado que o chão do
vizinho. E pisamos no chão Sagrado para crescermos como gente e como espírito.
Que tenhamos a humildade de pisar no chão Sagrado com os pés descalços, mas
também com o coração aberto. Que tenhamos a consciência de que a Caridade que a
gente almeja na Umbanda é para toda a vida, em todos os momentos da vida. É
estender a mão para um consulente que precisa, mas antes, estender a mão para
um irmão, pai, mãe, primo, vizinho... É fazer campanha de alimentos para um
consulente que não tem o que comer, mas se preocupar em dividir o que você tem
com aquele que está do seu lado. É entender que você é muito importante, que
você tem uma missão linda na Terra, mas que essa missão REALMENTE não é nem
melhor e nem pior do que a do seu irmão.
Mais uma vez ressalto, Reforma Íntima
é um ato de muita coragem. É coisa muito séria. Como disse Caboclo Mirim,
Umbanda é coisa séria para gente séria. Então, que tenhamos a seriedade
necessária para estarmos abertos a tudo que a Umbanda tem a nos ensinar. Que
possamos nos transformar a cada dia, com a alegria da nossa Beijada, com o
vigor dos nossos Caboclos, a sabedoria e humildade dos nossos Pretos Velhos, o
equilíbrio e a justiça de Xangô, o amor de Oxum, a ação de Ogum, a consciência
de Iemanjá, o conhecimento de Oxosse, o movimento de Iansã, a resignação de
Nana, a transformação de Omulu e a fé de Oxalá. Mas, que essa mudança não
aconteça só com a força de um banho de ervas, ou com uma oferenda para os
Orixás. Que essa transformação aconteça de dentro para fora também...com a
força dos nossos braços.
Deus, Zambi, Olorum, Tupã, como queiram,
foi infinitamente sábio ao nos presentear com amigos espirituais, os nossos
Guias, e com uma Natureza linda e cheia de energia, mas exige de nós o coração
aberto para a mudança e o esforço para alcançá-la a cada dia. Que Zambi nos
fortaleza, nos acalme, nos ampare e nos encaminhe para essa mudança.
Pai Eduardo
Salles.