Um dia desses sentada com Pai Benedito de Aruanda, estávamos falando sobre as dificuldades de um Pai e Mãe no Santo.
Parecia que todas aquelas palavras abraçavam meu coração, que velho sábio!!
Logo após fui conversar com uma mãe no santo que já tinha 95 anos com Pelo menos 60 anos de umbanda,ela se referia a função de mãe de santo como babá de orixá. Dona Lindalva era lúcida não parecia ter quase um século na terra.
Ela contou para nós seus relatos nessa caminhada, e confesso que por ironia do destino ela falou muito sobre ingratidão.
Após essas informações toda, eu parei para pensar o quanto que já sofri e sofro com a ingratidão e o quanto fui uma filha ingrata.
Benedito dizia: vão falar de você,seja você boa ou ruim, vão dizer coisas que você nao faz,dentro e fora de um terreiro.
Vão lhe dar abraço fraternos de puro amor,mas quando você der as costas tornarão a falar mal de você, e isso vai doer,Deus não dá fardos que não podemos carregar, mas ele também não dá os mais leves. Vão revirar os seus bolsos e você só será útil enquanto tiver algo para oferecer que seja benefícios para os próprios,quando suas pernas fraquejar você não será tão útil mais, e tornarão a falar mal de você,e buscarão outro terreiro é só irão falar de seus defeitos!
Mãe Dalva: tive mais de 50 anos de terreiro,tive muitos filhos de santo,mas a meses estou mal e me questiono, cadê alguém para me ajudar? Eu já não tinha mais forças, então ontem me batizei na igreja universal e a menina cuidou muito bem de mim.
Eu não tive uma mãe de santo presente em minha caminhada,quando entrei pro terreiro logo após ela sofreu um AVC,ao retornar tinha limitações, e outras pessoas estavam "no comando" confesso que murmurei muitas vezes e pensei em desistir.
Mas ainda assim o axé dela manteve aquela casa aberta, e gratidão por isso,ela carregava olhos de cuidado para mim.
Baseado na minha experiência com minha mãe de santo, busquei tudo aquilo que não tive naqueles momentos e decidi me disponibilizar aos meus filhos,cuidar,ser presente, doutrinária, educadora e motivadora.
Ser mãe de santo é um caminho árduo,confesso que não imaginava que era assim! É perder noites de sono buscando soluções junto ao espiritual para os problemas dos filhos,e eles ainda assim acharem que você não está se preocupando ou que você só tem ele pra olhar.
Ser mãe de santo é lutar todos os dias para mostrar pro seu filho que a umbanda não é uma moeda de troca e nem um comércio de fé.
Ser mãe de santo é proteger seus filhos,seu terreiro,seus consulentes,contra a maldade do mundo daqueles que usam de sua prepotência para fazer o mal, e muita das vezes absorve essa carga para si! Mas não podemos fraquejar,pestanejar, tão pouco pensar em desistir.
Mas poucos se esquecem que apesar de sermos preparados para essa caminhada,somos médiuns como outros médiuns,apenas carrego no peito um coração para abraçar todos como um filho consangüíneo.
E dou as costas para que bata em mim,punhais, ingratidões que não quero que caia sobre meus filhos.
Mas ainda sim,quando me perguntam se eu gosto de ser mãe de santo, minha resposta é eu aprendi a amar cuidar de gente, orientar, educar, abdicar do meu tempo de qualidade para oferecer uma mão de afago a alguém.
Além disso sou privilegiada,meu irmão mais velho caminha ao meu lado,meu esposo,e Pai de santo junto comigo na casa de Benedito.
Já o vi sem dormir,preocupado,virando noites montando apostila,deixando de ter vida social para estar no terreiro, confesso que já me estressei muito (rsrsrs) mas hoje eu tenho orgulho de caminhar ao lado dele.
Eu tenho orgulho da mão que passou sobre minha cabeça! Que oxalá guarde minha mãe de santo
Tenho orgulho do meu pai que me libertou ( salve a força de águia negra)
Tenho orgulho do meu irmão que me orientou a todo tempo,que me deu força para perseverar. (Salve a força de Pai Eduardo)
Tenho orgulho dos meus filhos (Salve a coroa de cada um deles)
E sim, eu tenho orgulho do axé que carrego!
Saravá!
Mãe Nathalia Salles