terça-feira, 27 de março de 2018

Aprendi a Amar

Um dia desses sentada com Pai Benedito de Aruanda, estávamos falando sobre as dificuldades de um Pai e Mãe no Santo.
Parecia que todas aquelas palavras abraçavam meu coração, que velho sábio!!

Logo após fui conversar com uma mãe no santo que já tinha 95 anos com Pelo menos 60 anos de umbanda,ela se referia a função de mãe de santo como babá de orixá. Dona Lindalva era lúcida não parecia ter quase um século na terra.
Ela contou para nós seus relatos nessa caminhada, e confesso que por ironia do destino ela falou muito sobre ingratidão.

Após essas informações toda, eu parei para pensar o quanto que já sofri e sofro com a ingratidão e o quanto fui uma filha ingrata.
Benedito dizia: vão falar de você,seja você boa ou ruim, vão dizer coisas que você nao faz,dentro e fora de um terreiro.

Vão lhe dar abraço fraternos de puro amor,mas quando você der as costas tornarão a falar mal de você, e isso vai doer,Deus não dá fardos que não podemos carregar, mas ele também não dá os mais leves. Vão revirar os seus bolsos e você só será útil enquanto tiver algo para oferecer que seja benefícios para os próprios,quando suas pernas fraquejar você não será tão útil mais, e tornarão a falar mal de você,e buscarão outro terreiro é só irão falar de seus defeitos!

Mãe Dalva: tive mais de 50 anos de terreiro,tive muitos filhos de santo,mas a meses estou mal e me questiono, cadê alguém para me ajudar? Eu já não tinha mais forças, então ontem me batizei na igreja universal e a menina cuidou muito bem de mim.

Eu não tive uma mãe de santo presente em minha caminhada,quando entrei pro terreiro logo após ela sofreu um AVC,ao retornar tinha limitações, e outras pessoas estavam "no comando" confesso que murmurei muitas vezes e pensei em desistir.
Mas ainda assim o axé dela manteve aquela casa aberta, e gratidão por isso,ela carregava olhos de cuidado para mim.

Baseado na minha experiência com minha mãe de santo, busquei tudo aquilo que não tive naqueles momentos e decidi me disponibilizar aos meus filhos,cuidar,ser presente, doutrinária, educadora e motivadora.

Ser mãe de santo é um caminho árduo,confesso que não imaginava que era assim! É perder noites de sono buscando soluções junto ao espiritual para os problemas dos filhos,e eles ainda assim acharem que você não está se preocupando ou que você só tem ele pra olhar.
Ser mãe de santo é lutar todos os dias para mostrar pro seu filho que a umbanda não é uma moeda de troca e nem um comércio de fé.
Ser mãe de santo é proteger seus filhos,seu terreiro,seus consulentes,contra a maldade do mundo daqueles que usam de sua prepotência para fazer o mal, e muita das vezes absorve essa carga para si! Mas não podemos fraquejar,pestanejar, tão pouco pensar em desistir.

Mas poucos se esquecem que apesar de sermos preparados para essa caminhada,somos médiuns como outros médiuns,apenas carrego no peito um coração para abraçar todos como um filho consangüíneo.
E dou as costas para que bata em mim,punhais, ingratidões que não quero que caia sobre meus filhos.
Mas ainda sim,quando me perguntam se eu gosto de ser mãe de santo, minha resposta é eu aprendi a amar cuidar de gente, orientar, educar, abdicar do meu tempo de qualidade para oferecer uma mão de afago a alguém.
Além disso sou privilegiada,meu irmão mais velho caminha ao meu lado,meu esposo,e Pai de santo junto comigo na casa de Benedito.
Já o vi sem dormir,preocupado,virando noites montando apostila,deixando de ter vida social para estar no terreiro, confesso que já me estressei muito (rsrsrs) mas hoje eu tenho orgulho de caminhar ao lado dele.
Eu tenho orgulho da mão que passou sobre minha cabeça! Que oxalá guarde minha mãe de santo
Tenho orgulho do meu pai que me libertou ( salve a força de águia negra)
Tenho orgulho do meu irmão que me orientou a todo tempo,que me deu força para perseverar. (Salve a força de Pai Eduardo)
Tenho orgulho dos meus filhos (Salve a coroa de cada um deles)
E sim, eu tenho orgulho do axé que carrego!

Saravá!

Mãe Nathalia Salles

segunda-feira, 26 de março de 2018

Quaresma e Semana Santa


     Salve, povo de Oxalá!

     Hoje vamos falar sobre Quaresma.

     Temos recebido várias indagações sobre a Quaresma na Umbanda. Existe uma variedade de interpretações sobre esta prática nos Terreiros, e estas interpretações ficam a critério das doutrinas de cada Casa. Primeiro, vamos entender o que significa Quaresma.

O que é a Quaresma?


     O Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica, a Ortodoxa, a Anglicana, a Luterana.

      A expressão Quaresma é originária do latim, quadragesima dies (quadragésimo dia). O adjetivo referente a este período é dito quaresmal ou, mais raro, quadragesimal[6].

    Em diversas denominações cristãs, o Ciclo Pascal compreende três tempos: preparação, celebração e prolongamento. A Quaresma insere-se no período de preparação.

     Os serviços religiosos desse tempo intentam a preparação da comunidade de fiéis para a celebração da festa pascal, que comemora a ressurreição e a vitória de Cristo depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrados nos Evangelhos.

     Esta preparação é feita por meio de jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.

     A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.


     Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.



     Ou seja, a Quaresma é uma preparação para a Semana Santa, praticada em algumas doutrinas Cristãs, fundamentalmente pela Igreja Católica. Mas, e na Umbanda, como funciona?

     Algumas Casas, as mais ligadas às práticas católicas entendem a Quaresma como um momento de reflexão; outras entendem que este é o momento em que o Espiritual avalia o desenvolvimento e o merecimento dos médiuns da Corrente, e por isso cumprem este recesso; A Tenda de Benedito entende que o Terreiro funciona como um Hospital Espiritual, e é inviável que se pare um Hospital por tanto tempo. Apesar de recebermos fortes influências do Catolicismo, fundamentamos a nossa doutrina na prática, e na prática, as pessoas precisam de amparo a todo tempo, inclusive na Quaresma. Médiuns e Assistência encontram-se em tratamentos que, se interrompidos por quarenta dias, podem trazer alguns efeitos danosos, e dobraria o trabalho dos Sacerdotes e Mentores da nossa Casa. Eu fui feito numa Casa que tinha esta orientação doutrinária e vivi estes efeitos na pele, tanto como médium em desenvolvimento, quanto como Pai Pequeno.

     Mas e as reflexões que a Quaresma nos propõe? Eu parto do pressuposto que são reflexões que temos que fazer constantemente, e não em períodos específicos.Na nossa Casa, direcionamos estas reflexões na Semana Santa. Afinal não é válido abraçar uma doutrina pela metade; como falar de quaresma sem falar de jejum, de períodos de prece, sem freqüência nas missas? Entendo que, como uma Tenda de Umbanda, devemos focar nossas doutrinas nos fundamentos de Umbanda, e os ensinamentos de Cristo devem ser abraçados nas nossas práticas, de forma constante e por tempo indeterminado. Mas claro que isso não nos exime do dever de respeitar a orientação doutrinária das Casas que cumprem este recesso. Cada Casa tem a sua orientação física e espiritual e todos nós temos a obrigação de respeitar.


SEMANA SANTA

     Ora, se não temos a prática da Quaresma, por que paramos na Semana Santa?

     Nós entendemos a Semana Santa com um simbolismo mais específico, que acrescenta a nós uma reflexão mais profunda e mais ligada a Cristo. A Semana Santa nos traz o sentido de Morte e Ressurreição de Cristo; nos ensina que o Homem que foi recebido como Rei em Jerusalém foi levado à morte pelos seus “súditos”. Este foi o momento em que o Homem Perfeito, Filho de Deus na Terra, temeu a morte já anunciada, mas ainda assim confiou na sua missão, se entregou à cruz e venceu a morte! A Semana Santa nos ensinou que o perdão é sempre válido, em todas as circunstâncias. Cristo foi traído pelos que os seguiam, foi negado três vezes pelo discípulo que afirmou ir com ele para a cruz, recebeu a pior punição na época, foi crucificado junto com ladrões, e perdoou tudo. Perdoou seus discípulos, o povo pra quem Ele foi enviado, perdoou até um dos ladrões, que havia se arrependido! Cristo nos ensina a transitoriedade da morte e da vida, o sentido constante de se morrer e nascer. Claro que Cristo, na magnitude do seu Espírito, nos ensina em alto estilo, através da ressurreição! Mas nos ensina que, quando morremos para o homem velho, o homem novo ressurge melhor, mais leve. Quando morremos para o nosso ego, para a nossa raiva, para os impulsos negativos da vida, renascemos mais iluminados. Olha quanta reflexão a Semana Santa nos traz!

     Entendo que uma semana para nos retirarmos da nossa rotina espiritual e refletirmos sobre tudo isso, junto com a nossa família, é fundamental. Como uma Tenda Cristã, o respeito ao simbolismo da morte e ressurreição de Cristo é imprescindível.

     Neste momento, fortalecemos o nosso Espiritual em Oxalá, nos sintonizamos com a energia da Fé que Oxalá nos irradia e refletimos sobre a nossa vida; sobre o que precisa morrer e renascer melhor em nós.

     Este é o sentido da Semana Santa para nós. Que cada um possa se propor a estas reflexões, e que possamos voltar da Páscoa um pouco melhores, mais leves...que a gente consiga entregar a Oxalá o que precisa morrer em nós, para que Ele nos faça renascer.

     Oxalá nos abençoe.

     Pai Eduardo Salles