Salve, gente boa!
Hoje vamos falar sobre Ego. Eis um tema curioso, em se tratando da
nossa dinâmica. As questões foram:
1 - O que vocês
entendem como Ego, e quais são os efeitos dele na caminhada espiritual de um
médium?
2 - Quais são
os traços do SEU Ego que você entende ser a sua maior dificuldade de lidar, que
precisa ser trabalhado e melhorado na sua caminhada espiritual?
Como toda boa dinâmica, eu me diverti bastante com a nossa Corrente.
Tivemos as mais diversas respostas. Alguns não entendem nada sobre ego, outros
entraram em questões freudianas, alguns falaram tanto que conseguiram não falar
nada. Mas, entre mortos e feridos...vamos falar sobre Ego.
Quando Pai Benedito nos propôs esta dinâmica, num primeiro momento eu
fiquei bastante empolgado. Seria muito interessante relembrar dos tempos do
curso de Psicologia... Ah, Freud. Mas então, Pai Benedito mandou que eu fizesse
um relatório individual do progresso dos médiuns da Corrente, e ainda contrapor
o que cada um respondeu na dinâmica com o que a gente tem percebido no dia a
dia. Passei a gostar um pouco menos do tema. Mas, vamos lá.
Primeiramente, precisamos diferenciar o conceito de Ego “científico” e
o conceito de Ego “popular”. O termo científico significa uma estrutura da
personalidade humana. O termo propriamente dito significa “eu” em latim. Seria
então a forma como eu resolvo e organizo os meus desejos, minhas vontades, na
sociedade em que vivo sem ferir os conceitos dela que estão em mim. A forma como a gente
significa as experiências que temos, nossos contatos com o mundo; a forma como
organizamos os nossos medos e reagimos diante deles; tudo isso é organizado
pelo nosso “Ego”, pelo nosso “Eu”. Freud só tornou o “eu” um objeto para que a
gente entendesse de forma didática que tem coisas em nós que nos influenciam e que nem sempre a
gente tem consciência. Por isso, os nossos desejos viraram “id”, a nossa
individualidade virou “ego” e as nossas forças morais e controladoras viraram
“superego”. Mas no final, consciente e inconsciente acontecem ao mesmo tempo.
Ao mesmo tempo em que desejamos, nos culpamos quando este desejo pode ferir
nossa imagem social, seja consciente ou inconscientemente. Mas então... era
sobre toda essa doideira que Pai Benedito queria que pensássemos?
Não. Ele queria que pensássemos no conceito popular do termo, que pode
ser melhor entendido com a expressão “ego inflado”. Popularmente, a expressão
“ego” é usada para caracterizar as pessoas que possuem traços egoístas de
personalidade; e egoísmo significa:
amor exagerado aos próprios interesses a despeito
dos de outrem.
exclusivismo que leva uma pessoa a se tomar
como referência a tudo; orgulho, presunção.
atitude ética ou social que parte do
princípio de que o fundamento de todo pensamento ou ação é a defesa dos
próprios interesses.
Mas Pai Eduardo, a gente precisava pensar sobre isso tudo? Não. Estamos
entrando nestes méritos porque foi o que me foi trazido pela Corrente. Alguns
disseram que o Ego não necessariamente é ruim. Realmente não é. Em termos
científicos, ele é fundamental para a nossa vida em sociedade, para a
construção da nossa auto imagem, para caminharmos rumo ao nosso lugar no mundo.
Mas precisávamos pensar no âmbito espiritual, onde não fazemos NADA
sozinhos. Precisávamos pensar até onde os vícios do nosso Ego podem prejudicar
a nossa própria caminhada. Era isso que pai Benedito queria de nós. Que
tivéssemos consciência do quanto somos egoístas e que tivéssemos coragem de
colocar em palavras esses vícios do Ego. Vícios como prepotência, arrogância,
timidez, medo, melindre, inveja, vingança, ira, etc.
E as respostas... bastante curiosas. Tiveram pessoas que escreveram
textos enormes, mas no meio de tantas palavras foram incapazes de apontar
sequer um vício do próprio ego. Pessoas que reconheceram como esta reflexão é
doída, pois estamos numa casa de amparo, desenvolvendo habilidades mediúnicas
para em breve servirmos de instrumento de caridade de vários espíritos, mas
ainda assim temos alguns destes vícios que precisam ser tratados.
As participações foram diversas, mas o que mais me marcou foram as
respostas evasivas. As pessoas que, consciente ou inconscientemente, não
tiveram coragem de reconhecer que não são perfeitas. Mas, este não é o espaço
para julgamento, e não somos nós os juízes.
O fato é que estes vícios do Ego, estes traços mal resolvidos da nossa
personalidade, são extremamente prejudiciais para o nosso próprio
desenvolvimento espiritual porque escolhemos (ou fomos escolhidos?) uma
Religião fundamentalmente social, onde nem o Sacerdote é auto suficiente. Todos
somos importantes no momento da Gira, cada um desempenhando a sua função.
Contudo, ninguém é insubstituível. Ninguém está numa posição acima de outrem,
ninguém se torna semideus ao avançar no seu desenvolvimento. A qualquer
momento, a Corrente pode ser ressignificada, com um elo se desligando, outros
se unindo, e sempre que todos os elos mantiverem a mesma sintonia, o trabalho
será bem executado.
E os efeitos do Ego no desenvolvimento? Vamos lá. Quando o médium não tem a humildade de reconhecer que não é ele que faz, mas que o espiritual é quem faz através dele, e que ele não é mais nem menos que o seu irmão, ele dá voz aos vícios do próprio ego e seu desenvolvimento trava; sua sintonia muda e este médium pode se abrir para obsessões complexas. Como bem disse Mãe Nathália em algumas das nossas várias reuniões doutrinárias, o Ego é a forca que o médium cria para sua própria morte espiritual.
Mas...e o Pai de Santo? Eu tenho diversos vícios do meu Ego. E em
respeito aos irmãos que tiveram a coragem de se abrir para mim, de colocar para
fora partes não tão agradáveis de si mesmos, vou me abrir para vocês também. Eu
sou bastante rancoroso. Guardo dentro de mim, como se fosse uma gravação, os
comentários, as posturas, as atitudes que me incomodam. Às vezes, anos depois,
eu me pego baseando minhas atitudes nessas gravações mentais que eu danosamente
guardo. Luto todos os dias contra a prepotência e a arrogância, e confesso que
nem sempre consigo vencer. E não adianta tomar a atitude ridícula e repugnante
de colocar a culpa no meu Pai de Cabeça. Não é porque sou filho de Xangô que
sou arrogante, mas é justamente por ser arrogante que Xangô tomou minha
cabeça...para me consertar...rs... Ainda assim, confesso que já fiz muito isso.
Já estive em desenvolvimento, ainda continuo para muitas coisas. Mas já quase
larguei tudo algumas vezes. Já tive que engolir muito sapo, tive que aprender o
que é respeito aos mais velhos sendo humilhado, e isso tudo se tornou muito
mais difícil por conta da tal da arrogância. Já arrotei santidade, como bem
fala a nossa Mãe Nathália; já passei pelo desleixo com as coisas espirituais; já desmereci minha família, tudo por conta da bendita da arrogância. Hoje aprendi que ela faz
parte de mim. É, como citou o apóstolo Paulo, o espinho na minha carne, e eu
tenho que aprender a controlar e conviver com ela. Além disso, sou facilmente
irritável, e bastante grosso quando fico irritado. Em questões espirituais,
quando vejo algo sendo feito errado, me irrito com uma facilidade incrível. E
estou tendo que aprender a lidar com isso. Estou aprendendo a me silenciar para não esr estúpido; A respeitar o tempo e a ignorância
das pessoas; aprender que ninguém nasce sabendo. Eu não nasci sabendo tudo e
não posso exigir isso de ninguém. Acho que essa brutalidade e essa
agressividade deve estar ligada à bendita arrogância. Além disso, eu muitas
vezes duvido da minha própria espiritualidade. As vezes eu fico com medo disso
tudo. As vezes eu fico com medo de não saber o que fazer, como fazer, onde
fazer. Graças a Deus e a Pai Benedito, isso tem sido cada vez mais bem tratado em
mim. Hoje eu consigo ter fé por mim e por mais quarenta, muitas vezes. Hoje eu
percebo que estes medos acontecem quando eu acho que sou eu que faço, quando eu
esqueço que sou só um instrumento, assim como cada um dos elos da nossa
Corrente. E aí eu percebo que quando se precisa ser feito algo, eu tenho a mão
de Benedito no meu ombro, e de repente eu esqueço de ter medo. Enfim, isso é
uma parte dos meus vícios de ego que consigo me lembrar agora.
O importante é entendermos que não é vergonha admitir que somos
imperfeitos. Se fôssemos perfeitos, não teríamos encarnado. Por mais que não
queiramos afirmar, sempre temos o que melhorar, o que controlar, para que o
nosso espiritual se desenvolva de forma saudável.
Que a gente não se esqueça que somos humanos. Que na nossa Casa,
NINGUÉM é melhor que ninguém. Não tem um cargo que faça um ser humano ser
melhor que outro. Se eu, como Sacerdote, me coloco como ser humano, no mesmo
patamar que o filho que acabou de entrar na Corrente e nunca tinha pisado numa
Casa de Umbanda na vida, não será tolerado que ninguém se coloque em pedestais.
Que possamos refletir constantemente nos vícios do nosso ego, e os que ainda
não conseguiram perceber seus vícios, que reflitam mais um pouco. Que a gente
não esqueça que o nosso desenvolvimento é constante, que a espiritualidade nos
observa constantemente, e que o nosso único objetivo ali é nos tornarmos seres
humanos melhores.
Que Oxalá nos abençoe e nos ampare nessa caminhada.
Saravá!
Pai Eduardo Salles.
Saravá, meu pai!
ResponderExcluirSábias palavras. Nos ensinam muito. Obrigada ♡