quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Ego

         
          Salve, gente boa!

Hoje vamos falar sobre Ego. Eis um tema curioso, em se tratando da nossa dinâmica. As questões foram:

1 - O que vocês entendem como Ego, e quais são os efeitos dele na caminhada espiritual de um médium?

2 - Quais são os traços do SEU Ego que você entende ser a sua maior dificuldade de lidar, que precisa ser trabalhado e melhorado na sua caminhada espiritual?

Como toda boa dinâmica, eu me diverti bastante com a nossa Corrente. Tivemos as mais diversas respostas. Alguns não entendem nada sobre ego, outros entraram em questões freudianas, alguns falaram tanto que conseguiram não falar nada. Mas, entre mortos e feridos...vamos falar sobre Ego.
Quando Pai Benedito nos propôs esta dinâmica, num primeiro momento eu fiquei bastante empolgado. Seria muito interessante relembrar dos tempos do curso de Psicologia... Ah, Freud. Mas então, Pai Benedito mandou que eu fizesse um relatório individual do progresso dos médiuns da Corrente, e ainda contrapor o que cada um respondeu na dinâmica com o que a gente tem percebido no dia a dia. Passei a gostar um pouco menos do tema. Mas, vamos lá.
Primeiramente, precisamos diferenciar o conceito de Ego “científico” e o conceito de Ego “popular”. O termo científico significa uma estrutura da personalidade humana. O termo propriamente dito significa “eu” em latim. Seria então a forma como eu resolvo e organizo os meus desejos, minhas vontades, na sociedade em que vivo sem ferir os conceitos dela que estão em mim. A forma como a gente significa as experiências que temos, nossos contatos com o mundo; a forma como organizamos os nossos medos e reagimos diante deles; tudo isso é organizado pelo nosso “Ego”, pelo nosso “Eu”. Freud só tornou o “eu” um objeto para que a gente entendesse de forma didática que tem coisas em nós que nos influenciam e que nem sempre a gente tem consciência. Por isso, os nossos desejos viraram “id”, a nossa individualidade virou “ego” e as nossas forças morais e controladoras viraram “superego”. Mas no final, consciente e inconsciente acontecem ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo em que desejamos, nos culpamos quando este desejo pode ferir nossa imagem social, seja consciente ou inconscientemente. Mas então... era sobre toda essa doideira que Pai Benedito queria que pensássemos?
Não. Ele queria que pensássemos no conceito popular do termo, que pode ser melhor entendido com a expressão “ego inflado”. Popularmente, a expressão “ego” é usada para caracterizar as pessoas que possuem traços egoístas de personalidade; e egoísmo significa:

amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem.

    exclusivismo que leva uma pessoa a se tomar como referência a tudo; orgulho, presunção.

    atitude ética ou social que parte do princípio de que o fundamento de todo pensamento ou ação é a defesa dos próprios interesses.

Mas Pai Eduardo, a gente precisava pensar sobre isso tudo? Não. Estamos entrando nestes méritos porque foi o que me foi trazido pela Corrente. Alguns disseram que o Ego não necessariamente é ruim. Realmente não é. Em termos científicos, ele é fundamental para a nossa vida em sociedade, para a construção da nossa auto imagem, para caminharmos rumo ao nosso lugar no mundo.
Mas precisávamos pensar no âmbito espiritual, onde não fazemos NADA sozinhos. Precisávamos pensar até onde os vícios do nosso Ego podem prejudicar a nossa própria caminhada. Era isso que pai Benedito queria de nós. Que tivéssemos consciência do quanto somos egoístas e que tivéssemos coragem de colocar em palavras esses vícios do Ego. Vícios como prepotência, arrogância, timidez, medo, melindre, inveja, vingança, ira, etc.
E as respostas... bastante curiosas. Tiveram pessoas que escreveram textos enormes, mas no meio de tantas palavras foram incapazes de apontar sequer um vício do próprio ego. Pessoas que reconheceram como esta reflexão é doída, pois estamos numa casa de amparo, desenvolvendo habilidades mediúnicas para em breve servirmos de instrumento de caridade de vários espíritos, mas ainda assim temos alguns destes vícios que precisam ser tratados.
As participações foram diversas, mas o que mais me marcou foram as respostas evasivas. As pessoas que, consciente ou inconscientemente, não tiveram coragem de reconhecer que não são perfeitas. Mas, este não é o espaço para julgamento, e não somos nós os juízes.
O fato é que estes vícios do Ego, estes traços mal resolvidos da nossa personalidade, são extremamente prejudiciais para o nosso próprio desenvolvimento espiritual porque escolhemos (ou fomos escolhidos?) uma Religião fundamentalmente social, onde nem o Sacerdote é auto suficiente. Todos somos importantes no momento da Gira, cada um desempenhando a sua função. Contudo, ninguém é insubstituível. Ninguém está numa posição acima de outrem, ninguém se torna semideus ao avançar no seu desenvolvimento. A qualquer momento, a Corrente pode ser ressignificada, com um elo se desligando, outros se unindo, e sempre que todos os elos mantiverem a mesma sintonia, o trabalho será bem executado.
E os efeitos do Ego no desenvolvimento? Vamos lá. Quando o médium não tem a humildade de reconhecer que não é ele que faz, mas que o espiritual é quem faz através dele, e que ele não é mais nem menos que o seu irmão, ele dá voz aos vícios do próprio ego e seu desenvolvimento trava; sua sintonia muda e este médium pode se abrir para obsessões complexas. Como bem disse Mãe Nathália em algumas das nossas várias reuniões doutrinárias, o Ego é a forca que o médium cria para sua própria morte espiritual.
Mas...e o Pai de Santo? Eu tenho diversos vícios do meu Ego. E em respeito aos irmãos que tiveram a coragem de se abrir para mim, de colocar para fora partes não tão agradáveis de si mesmos, vou me abrir para vocês também. Eu sou bastante rancoroso. Guardo dentro de mim, como se fosse uma gravação, os comentários, as posturas, as atitudes que me incomodam. Às vezes, anos depois, eu me pego baseando minhas atitudes nessas gravações mentais que eu danosamente guardo. Luto todos os dias contra a prepotência e a arrogância, e confesso que nem sempre consigo vencer. E não adianta tomar a atitude ridícula e repugnante de colocar a culpa no meu Pai de Cabeça. Não é porque sou filho de Xangô que sou arrogante, mas é justamente por ser arrogante que Xangô tomou minha cabeça...para me consertar...rs... Ainda assim, confesso que já fiz muito isso. Já estive em desenvolvimento, ainda continuo para muitas coisas. Mas já quase larguei tudo algumas vezes. Já tive que engolir muito sapo, tive que aprender o que é respeito aos mais velhos sendo humilhado, e isso tudo se tornou muito mais difícil por conta da tal da arrogância. Já arrotei santidade, como bem fala a nossa Mãe Nathália; já passei pelo desleixo com as coisas espirituais; já desmereci minha família, tudo por conta da bendita da arrogância. Hoje aprendi que ela faz parte de mim. É, como citou o apóstolo Paulo, o espinho na minha carne, e eu tenho que aprender a controlar e conviver com ela. Além disso, sou facilmente irritável, e bastante grosso quando fico irritado. Em questões espirituais, quando vejo algo sendo feito errado, me irrito com uma facilidade incrível. E estou tendo que aprender a lidar com isso. Estou aprendendo a me silenciar para não esr estúpido; A respeitar o tempo e a ignorância das pessoas; aprender que ninguém nasce sabendo. Eu não nasci sabendo tudo e não posso exigir isso de ninguém. Acho que essa brutalidade e essa agressividade deve estar ligada à bendita arrogância. Além disso, eu muitas vezes duvido da minha própria espiritualidade. As vezes eu fico com medo disso tudo. As vezes eu fico com medo de não saber o que fazer, como fazer, onde fazer. Graças a Deus e a Pai Benedito, isso tem sido cada vez mais  bem tratado em mim. Hoje eu consigo ter fé por mim e por mais quarenta, muitas vezes. Hoje eu percebo que estes medos acontecem quando eu acho que sou eu que faço, quando eu esqueço que sou só um instrumento, assim como cada um dos elos da nossa Corrente. E aí eu percebo que quando se precisa ser feito algo, eu tenho a mão de Benedito no meu ombro, e de repente eu esqueço de ter medo. Enfim, isso é uma parte dos meus vícios de ego que consigo me lembrar agora.
O importante é entendermos que não é vergonha admitir que somos imperfeitos. Se fôssemos perfeitos, não teríamos encarnado. Por mais que não queiramos afirmar, sempre temos o que melhorar, o que controlar, para que o nosso espiritual se desenvolva de forma saudável.
Que a gente não se esqueça que somos humanos. Que na nossa Casa, NINGUÉM é melhor que ninguém. Não tem um cargo que faça um ser humano ser melhor que outro. Se eu, como Sacerdote, me coloco como ser humano, no mesmo patamar que o filho que acabou de entrar na Corrente e nunca tinha pisado numa Casa de Umbanda na vida, não será tolerado que ninguém se coloque em pedestais. Que possamos refletir constantemente nos vícios do nosso ego, e os que ainda não conseguiram perceber seus vícios, que reflitam mais um pouco. Que a gente não esqueça que o nosso desenvolvimento é constante, que a espiritualidade nos observa constantemente, e que o nosso único objetivo ali é nos tornarmos seres humanos melhores.

Que Oxalá nos abençoe e nos ampare nessa caminhada.

Saravá!


Pai Eduardo Salles.

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