quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Médium Ativo!

Saravá, gente boa!!!

Vamos pegar um gancho na nossa dinâmica do Ego, e falar um pouco sobre a participação ativa dos médiuns no seu processo de desenvolvimento? Vamos sim. Mas antes, eu queria começar pela parte “negativa” desta participação. Vamos falar sobre o que acontece de fato quando um “vício do ego” age no nosso desenvolvimento. Vamos falar então de vaidade, prepotência, medo, timidez, pré julgamento, impaciência, inveja. Vamos lá!

Vaidade


- qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória.

- valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros.

- avaliação muito lisonjeira que alguém tem de si mesmo; fatuidade, imodéstia, presunção, vanidade.

- coisa insignificante, futilidade; vanidade.

A vaidade é o traço vicioso do ego mais fácil de identificar, mais comum nos médiuns novos, ainda inexperientes e desconhecedores dos fundamentos da nossa Religião, e o maior alvo da direção espiritual do TUBA. A vaidade, como a própria definição nos aponta, é vazia e mentirosa. Num âmbito espiritual, eu achar que sou o melhor porque meu Guia faz algo interessante, ou que meus Guias merecem a melhor roupa, a melhor bebida, o melhor adereço, tudo isso funciona como a principal ferramenta para que se corte a sintonia, numa Religião em que um dos principais pilares é a humildade. Somos somente instrumentos. Os nossos Guias não são nossos de verdade. Só firmaram um acordo de caminhada conjunta conosco. Mas também vivem a humildade na Umbanda. Para se estar num terreiro de Umbanda, precisamos nos aliar diariamente à humildade, ao espírito de sacrifício, à caridade. É uma caminhada laboriosa, muitas vezes doloridas, e não tem espaço para que se permita um desfie de orgulho e vaidade.

Prepotência

- característica do que é prepotente.

- poder mais alto.

- abuso do poder ou de autoridade; opressão, tirania, despotismo.

- tendência para o mandonismo, esp. se se possui alguma vantagem, como riqueza, poder, força física etc.

A prepotência é o desvio do nosso ego que nos engana, quando nos faz acreditar que realmente somos superiores aos nossos irmãos, principalmente quando começamos a dar alguns passos no nosso desenvolvimento, e acabamos recebendo algum cargo, ou entregamos algumas Obrigações e entendemos que estamos prontos para menosprezar aqueles a quem acreditamos estar abaixo de nós. Prepotência é irmã do autoritarismo, e é completamente repreensível, tanto no espiritual quanto no físico. Na nossa Casa, eu e Mãe Nathália, como Sacerdotes da Casa, nos colocamos como iguais, em termos de importância, aos nossos filhos. Ora, se os Sacerdotes têm esta postura, quem abaixo deles teria o direito de fazer diferente?
Não podemos esquecer que a Umbanda é sim uma Religião hierárquica, mas esta hierarquia não nos dá super poderes. De forma alguma. Muito pelo contrário. Quanto mais caminhamos no nosso desenvolvimento, mais somos cobrados a termos espírito de sacrifício. Mais trabalhos de caridade aparecem, e se não amortecemos a nossa prepotência, não tem quem aguente.
Na nossa Casa, a quem mais é dado, mais é cobrado, e nenhum cargo é sinônimo de poder. Cargos e Obrigações são proteções para o trabalho, e não poder. Todos nós, na mesma medida, temos os mesmos poderes, as mesmas capacidades. Somos todos importantes na mesma medida, e da mesma forma, nenhum de nós é insubstituível. Precisamos tomar muito cuidado com a prepotência, pois ela nos coloca num altar, e a gente sempre se machuca quando cai dele.

Medo

- psic estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência.

- temor, ansiedade irracional ou fundamentada; receio.

- apreensão em relação a (algo desagradável).

O maior dano que o medo pode trazer para o nosso desenvolvimento espiritual é a paralisação. Por medo, eu me travo, não permito manifestações, não permito contatos espirituais, às vezes não permito nem o meu próprio ingresso numa Corrente Mediúnica. A questão é que ninguém é chamado para um trabalho espiritual sem que tenha uma Coroa Espiritual para o amparar. Existem diversos espíritos empenhados basicamente em nos fazer cumprir a nossa missão e cumprir a própria missão conosco. Isso é lindo, mas requer de nós a coragem para nos abrirmos a novas experiências...experiências estas que são únicas. Ninguém tem uma mediunidade exatamente igual à outra. Nós a categorizamos para facilitar a didática, mas o Espiritual se manifesta de uma forma singular para cada um de nós. Precisamos tomar cuidado para que o medo do desconhecido não nos prive de experiências fantásticas com o espiritual, e de trabalhos espirituais bastante importantes para o nosso desenvolvimento.

Timidez

- estado, condição ou característica de tímido; acanhamento excessivo.

- qualidade de quem é fraco, frouxo.

Realmente, bastante agressiva a definição de timidez no dicionário. Acho importante a gente tentar ressignificar ela. No lugar de “qualidade de quem é fraco, frouxo” podemos dizer que é a qualidade de quem SE SENTE fraco, frouxo. Entendo a timidez como bem próxima do medo, mas com a diferença de que, na timidez, a nossa maior preocupação é o que as pessoas vão pensar, se os nosso Guia vai bradar, se vai dançar, se vai dançar errado e as pessoas vão reparar, e por aí vai.
Neste ponto, a timidez é tão prejudicial quanto o medo, justamente pela paralisação. Não nos permitir caminhar por preocupação com o que as pessoas vão pensar, é pura perda de tempo. Se a nossa intenção for acertar, a gente sempre vai ter o amparo devido para nos corrigir e nos indicar o caminho certo da melhor forma. Se tivermos amortecido a nossa vaidade, uma exortação nunca nos ferirá. E o correto é que da mesma forma que a gente não gosta de ser apontado pelo nosso irmão, que a gente não aponte! Como disse anteriormente, o Espiritual se manifesta de forma única para cada um de nós, e temer a aprovação ou reprovação do outro é tão prejudicial quanto se dar ao direito de julgar a manifestação do outro porque não é como a sua! Vamos tomar cuidado com o nosso olhar para o outro. Vamos deixar que os Sacerdotes olhem o irmão. Vamos nos preocupar com a nossa entrega pessoal e sincera ao Espiritual.
               
  Julgamento

- jur ato pelo qual a autoridade judicante, após examinar os autos do processo e formar sobre ele um juízo, expõe e justifica sua decisão para a solução do conflito.
- jur a sentença de um juiz ou tribunal; decisão resultante de uma disputa judicial.
- jur audiência de um tribunal perante o juiz.
- apreciação crítica, opinião (favorável ou desfavorável) sobre alguém ou algo; juízo, parecer.

                    Apontei o significado de julgamento para falar sobre pré julgamento. Este seria basicamente o caminho contrário do apontado na timidez. No pré julgamento, eu me sinto no direito de julgar, apontar, criticar a manifestação do outro, a forma como o outro se coloca ou deixa de se colocar para o espiritual, a frequência do outro na Gira, etc. Resumindo, eu me sinto no direito de julgar a vida do outro. Um grave erro, que normalmente resulta em situações em que o médium é exposto involuntariamente e acaba sendo julgado da mesma forma. E essa inversão não acontece por vingança, mas por um princípio espiritual básico, e até bíblico: Lei do Retorno. Ou, biblicamente “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós...” (Mateus 7:1,2).
                    Ou seja, o nosso pré julgamento sempre será a balança para o nosso julgamento. Vamos tomar cuidado.
               
Impaciência

qualidade, estado ou condição de impaciente; falta de paciência.

incapacidade para sofrer sem se desesperar ou para suportar algo molesto ou incômodo; irresignação.

                      A impaciência, na esmagadora maioria das vezes, é um imenso desrespeito. Quando esta impaciência se dá por conta de questões relacionadas a nós mesmos, à nossa mediunidade, é uma falta de respeito com o nosso próprio tempo, com o tempo que precisamos para nos alicerçar na nossa fé antes de sair para a “batalha”. Gosto bastante da ideia da casa para comparar com o desenvolvimento mediúnico. Antes de construir as paredes, precisamos firmar o fundamento da casa. Antes de construir o telhado, precisamos do fundamento firme e das colunas de sustentação... da mesma forma se dá com o nosso desenvolvimento mediúnico. Precisamos nos firmar nos fundamentos e nos alicerces antes de nos declararmos como prontos e nos aventurarmos ao trabalho espiritual. Caridade é algo muito sério para ser feito de qualquer jeito. E a nossa maior preocupação é com o bom desenvolvimento, com o desenvolvimento seguro e bem firmado de cada um dos nossos filhos.
                      Manifestações constantes não quer dizer nada se não forem acompanhadas de bons frutos de firmeza. Claro que as manifestações são sempre importantes, a meu ver, pois aumentam a sintonia com aquele Orixá/Guia, e quanto mais bem sintonizado eu estiver, melhor eu desempenho o meu papel quando eu for posto para a caridade. Mas a manifestação espiritual é a ponta de um iceberg. Além de uma manifestação aparentemente firme, precisamos de frutos de firmeza do Guia e do médium, e isso se dá invariavelmente com o passar do tempo. Impaciência só te leva para o caminho da frustração. Se cada um de nós entendermos que tudo tem o seu tempo (o que inclusive também é bíblico), poderemos aproveitar com muito mais intensidade todas as fases do nosso desenvolvimento. Teremos um fundamento bem feito, alicerces bem fundamentados e posteriormente, um belo telhado na nossa “Casa”. Afinal de contas, todos nós sabemos o que acontece se colocarmos a laje numa casa mal alicerçada, ou ainda se tiramos as escoras da laje antes do tempo...(para os desinformados, cai tudo na nossa cabeça...rs)

Inveja

desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia.
desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem.

                      Acredito que, pela definição, a inveja dispensa comentários. A Umbanda é linda, e tudo nela chama a atenção. O cheiro, as cores, as danças, as manifestações, tudo. Mas toda essa beleza reservou uma experiência ÚNICA para cada um de nós. Cada um de nós terá respostas, contatos, sentimentos, movimentos ÚNICOS com o nosso Sagrado. Então, por que cargas d’água eu vou invejar a forma como o meu irmão manifesta o seu sagrado? Por que eu vou querer ter o Caboclo das Sete Montanhas de Xangô da Pedra Preta, se o meu irmão tem só o Caboclo Sete Montanhas? Posturas como essas acabam afastando o Caboclo Samambaia, que levaria experiências maravilhosas. Enfim, exemplos não faltariam.
                      O fato é que a inveja é a mãe de todos os males. Nossa Religião é toda doação. É se doar para o Espiritual para que ele se manifeste e atue nos outros. É receber doação do Espiritual para o nosso equilíbrio. É doar nosso tempo, nosso lazer, nossas energias, para que pessoas que muitas vezes nem conhecemos tenham um pouco de alívio de suas dores. E diante disso, como a inveja poderia nos ajudar? Precisamos entender e acreditar que cada um de nós é único. E para cada um de nós estão reservadas experiências únicas. Almejar as experiências alheias é um atraso para a própria vida espiritual.
                      Tudo isso para apontarmos os riscos nocivos aos vícios do ego, a que todos nós estamos sujeitos. Todos nós precisamos vigiar a todo tempo para não cairmos nestes vícios e não baixar nossa vibração, nos sintonizando com o que não se deve. O Espiritual é lindo, mas sério e sutil, e nós temos SEMPRE uma participação ativa em todo o processo de manifestação do espiritual na Terra. Mas então, qual seria o melhor remédio para não cairmos nestes desvios e contribuirmos ativamente para o nosso bom desenvolvimento, para a boa sintonia com o Espiritual de Luz?
                      Consciência e Prece. Consciência de que se fôssemos perfeitos nem teríamos encarnado. Eu não sou perfeito, a Mãe de Santo não é perfeita, os Ogãs não são, nem os Cambonos, nem os médiuns de trabalho, nem os de desenvolvimento, nem a Assistência. Precisamos ter a consciência de que SEMPRE teremos o que corrigir em nós. Sempre temos o que aprender, o que crescer. E a prece? Prece é benéfica a todo tempo, mas uma forma eficaz de evitar a quebra da boa sintonia durante a Gira é sempre entrar em prece pedindo para que sejamos apenas bons instrumentos, que o nosso ego seja calado naquele momento, que o Espiritual tenha liberdade para se manifestar em nós da forma mais pura possível. Uma prece simples dessa pode evitar muitos males, se feita sempre no início da Gira. Com o passar do tempo, automaticamente esta prece vai se ampliando para o momento em que a gente acorda, para o momento em que alguém nos pede ajuda numa conversa no trabalho, na rua, no ônibus, e a gente acaba percebendo que a luz que a gente busca na Umbanda nos acompanha a todo tempo, e a todo tempo somos chamados para sermos instrumento.
                      Que a gente tenha consciência da importância de uma boa sintonia com o Alto com a maior constância possível. Que a gente tenha consciência que a Caridade não é feita somente quando a gente está de bom humor, ou quando tudo está maravilhosamente bem na nossa vida. Que a gente tenha consciência que o nosso chamado é grande, mas se faz com humildade, diariamente. E que ninguém nos obriga a absolutamente nada. Se nós não quisermos a humildade, a compaixão, o amor, a paciência, a fé, estas não vão arrombar as portas do nosso coração e nos mudar à força. É preciso que a gente abra a porta. Que a gente abra as portas do nosso coração para que Deus nos contemple com as maravilhas que Ele guardou para cada um de nós, de forma única. E que a prece seja a nossa maior ferramenta de mudança. Vamos aprender a fazer prece!
                      Para encerrar, deixo mais uma passagem bíblica, com mais um ensinamento de Pai Oxalá para nós, para refletirmos. "Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta" ( Mateus 7:7). O Espiritual espera que façamos a nossa parte, que nos coloquemos na posição de instrumento, para que o Espiritual haja em nós e através de nós.

Que Oxalá nos abençoe e nos ampare nessa caminhada.

Saravá!


Pai Eduardo Salles

2 comentários:

  1. Cuidado com pensamentos do tipo “eu acho que sou diferente dos outros”, ou “sinto pena deles, eles não sabem de nada”. Esses pensamentos são armadilhas do ego, pois você está se separando e se colocando acima dos outros.

    Espiritualidade e autoconsciência não tem nada a ver com superioridade ou separação. Pelo contrário: quanto mais fundo nós mergulhamos, mais percebemos o quanto, apesar da nossa individualidade, estamos todos conectados e somos todos iguais. :)

    Namastê!

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