segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sagrado

Salve salve, gente boa.


Já tem um tempo que a gente lançou a nossa última dinâmica, e por conta da complexidade dela e da nossa falta de tempo, não consegui terminar dentro do nosso prazo. Mas retomando nossos trabalhos, aquela nossa dinâmica teve como tema o Sagrado. O que temos de Sagrado, tanto em âmbito físico quanto em âmbito espiritual?

Precisa falar que as respostas foram diversas, engraçadas, surpreendentes? Acho que não. Realmente é fundamental conhecermos a fundo o que vivemos. Só somos capazes de desempenhar bem um papel, quando o conhecemos por inteiro. Mas antes de tentar resumir o que é Sagrado na nossa Umbanda, aos olhos do nosso TUBA, vamos entender o que significa o termo “Sagrado”:

1.     
relativo ou inerente a Deus, a uma divindade, à religião, ao culto ou aos ritos; sacro, santo.
"liturgia s."
2.       
que recebeu a consagração, que se sagrou.

       Mas...e qual seria o oposto de Sagrado?

1.     
que não pertence ao âmbito do sagrado.
"coisas p."
2.       
que é estranho, que não pertence à religião.
"elementos p. penetraram no santuário"

       Estas definições se referem ao termo “Profano”. Ou seja, para entendermos bem os elementos sagrados da nossa Religião, precisamos entender bem o que significa Sagrado e Profano. Eu não consigo enxergar elementos profanos na Umbanda. Vejo atitudes profanas, e sobre elas conversaremos mais adiante.
       Para tornar nossa exposição mais didática, vou separar os elementos em duas categorias: espiritual e físico. Por “espiritual” eu entendo as coisas que não possuem necessariamente um invólucro físico. Claro que essa idéia é extremamente simplista. Mas eu tento deixar as coisas mais praticas e didáticas possíveis. Em conversas posteriores, podemos nos aprofundar nisso tudo. E como “físico”...acho que dispensa comentários. Cada categoria terá tópicos, explicando cada elemento sagrado. Bem...sem mais delongas, vamos lá.


§  ELEMENTOS SAGRADOS ESPIRITUAIS


Deus

Eis nosso “Elemento Espiritual Sagrado” mais importante. Podemos chamar de Zambi, Olorum, Tupã, Deus, Pai Maior, Senhor, enfim...vários nomes para caracterizar o princípio de tudo, a mão que coordena toda essa gigante e complexa máquina caótica que é a Vida. O dono do início e do fim, mas que não possui início e nem fim. A força suprema. Onipotente, Onisciente, Onipresente, se reflete para nós, Umbandistas do TUBA, através de Oxalá, o Orixá da luz e da fé. Em outra oportunidade, tentaremos nos aprofundar nos Mistérios dos Orixás, mas aqui, cabe apontar que, como cristão, entendo Cristo como o Filho de Deus, respeitando todo o Mistério da Trindade, e vejo Oxalá como uma das faces do Cristo na Terra. Vamos resistir à tentação de escrever sobre o Mistério da Trindade, de Cristo e Oxalá, e vamos entender Deus como a Força que nos move, que permite que sejamos instrumentos de algo que está além do que nossos olhos podem contemplar...que nos permite experiências muitas vezes inacreditáveis, e faz tudo isso em troca da nossa doação sincera e completa.

Orixás

Os Orixás são Irradiações de Deus. São forças puras da Natureza, que se alinham a Espíritos de Alta Hierarquia, que as coordena. Claro que nós, seres humanos densos, nunca poderíamos receber em nossos corpos a energia pura do oceano, ou do vento, por exemplo. E nem estamos alinhados para receber em nossos corpos os Espíritos de Alta Hierarquia que as coordenam diretamente. Mas então, o que recebemos no Terreiro, afinal?
Como tudo no mundo espiritual é extremamente organizado, por mais que nossos olhos limitados vejam o caos, esta hierarquia espiritual dos Orixás se desdobra até uma vibração “aceitável à nossa realidade”. Este desdobramento também seria um excelente tópico para conversas futuras. O que vale para nós neste momento é que cada Orixá possui sua falange, que se desdobra em subfalanges, até nos alcançar sem danificar a nossa densidade. Como partes da Natureza, cada um de nós traz em si a força de todos os Orixás, sendo que algumas se sobressaem a outras, de acordo com a nossa Missão nessa vida. Isso faz com que sejamos filhos de Xangô, ou de Ogum... Isso na realidade significa que a energia de Ogum se sobressai na vida de um filho seu, influenciando sua personalidade, suas dificuldades na vida, suas habilidades, etc. 
 Cada Orixá tem sua morada em pontos de força na Natureza, relacionados à energia que coordena. Com isso, os Orixás, força espiritual fundamental para o mecanismo de funcionamento da Vida, nos olhos da Umbanda, são “elementos espirituais sagrados” para nós, tanto quanto os pontos de força em que habitam.


Energia

Ué...energia é sagrada? Como assim?

Energia é o elemento primordial de toda a estrutura da nossa Religião. Na verdade, energia vai muito além do que a Umbanda nos ensina. Mas, para não nos prolongarmos mais do que gostaríamos, vamos ficar só no âmbito espiritual da coisa.
Os Orixás são essencialmente, energia. Recebemos no Terreiro Espíritos Falangeiros de Orixá, que são Espíritos que manipulam estas energias em nós e no mundo. Os Guias são Espíritos que se enquadram em estereótipos para manipularem energias específicas. Nossas guias são condensadores de energia, com a finalidade de atrair ou repelir determinadas energias. Nossos pontos de força são condensadores de energia. Nosso defumador é um dissipador de energia. Nosso corpo precisa de energia tanto no físico quanto no espiritual para se nutrir. Nossa Aura, na verdade é o nosso campo energético; e este campo energético precisa estar o mais equilibrado possível para que as manifestações espirituais sejam satisfatórias. Resumindo o enredo, tudo na Umbanda gira em torno do cuidado e da manipulação de energias. Isso, repito, somente no âmbito espiritual. No âmbito físico (não resisti...rs), a ciência nos ensina que toda a matéria é energia condensada. Ou seja: velas, sementes, contas, frutas, óleos, essências, flores, ervas, fitas, etc., tudo possui energia condensada, passível de manipulação pelo espiritual. Então, energia, para nós, é mais que sagrada...é imprescindível.




§  ELEMENTOS SAGRADOS FÍSICOS.


Para começar, precisamos retomar o que significa “físicos” aqui pra nós. Como físico, eu entendo que são os elementos no físico, que possuem uma importância espiritual. Dito isso, prossigamos:


Altar

  Vamos começar pelos pontos de força. O Altar, ou Congá, ou Gongá, é um dos principais pontos de força do Terreiro. Possui toda a Coroa Espiritual do Terreiro. É onde se encontram os elementos de todas as Linhas da nossa Casa, de onde e para onde correm toda a energia da Gira.
É um dos pontos de força mais importantes, pois tem como função, além de nos doar e receber de nós energia, equilibrar a Coroa dos médiuns. O ritual de “bater cabeça”, por exemplo, tem um significado muito bonito, que consiste no médium “entregar” sua Coroa para que esta se sintonize com a Coroa da Casa. Quando fazemos o ritual de bater cabeça antes de iniciar a Gira, estamos entregando a nossa Coroa, confiando nas Energias que regem a Casa, para que nada nos aconteça que esteja fora do permitido pela Coroa da Casa. É um ritual que deve ser feito com o máximo de respeito, sempre que o médium sentir algum desequilíbrio ou vibração desconhecida, no momento da Gira. Com isso, devemos todo o respeito e reverência ao nosso Altar.


Porteira

A Porteira é o ponto de força responsável pela proteção do Terreiro. É onde firmamos os Exus responsáveis pela entrada e saída de espíritos, que seguram as demandas, que coordenam os Exus dos médiuns. Como ninguém gostaria de ficar desprotegido, principalmente em se tratando de questões espirituais, onde poucos de nós vemos o que acontece, nossa Porteira deve ser tratada com todo o respeito e reverência.

Roncó

O Roncó é o ponto de força onde a Coroa dos médiuns é tratada de forma individualizada. É onde se encontram as proteções destas Coroas. É a parte mais Sagrada do Terreiro. Mesmo que simples no material, possui tremenda importância espiritual. Somente por ser o local onde firmamos nosso Anjo da Guarda, já merece todo o respeito e reverência.

Roupa Branca

Nossa roupa branca, ou roupa de santo, é o nosso instrumento de trabalho. Quando pisamos no Terreiro e colocamos o branco, a espiritualidade entende que estamos prontos para trabalhar. O curioso é que esse trabalho não acontece somente quando a Gira abre, mas assim que pisamos no Terreiro e colocamos o branco! Por este motivo, TUDO que for feito dentro do Templo, para o Templo ou para os trabalhos que ali acontecerão, devem ser feitos com o nosso uniforme. Desde varrer o chão do salão a preparar um Maleme.
Além disso, deve-se apontar a importância de termos alguns cuidados com o nosso uniforme. Ele deve estar sempre limpo, bem apresentável, deve ser discreto, sem decotes e transparências, etc. O recomendável é que se lave em separado da nossa roupa cotidiana.
Então, para os homens: Calça branca, blusa branca, ou jaleco branco. Para as mulheres: Calça branca, saia branca por cima da calça, blusa branca ou jaleco branco.
Ainda sobre o nosso uniforme, vale ressaltar a importância de dois elementos muito importantes dentro da nossa ritualística:

·         Toalha: Utilizada para batermos cabeça, cobrirmos alguns Orixás no momento da manifestação, e para nos proteger de cargas negativas, quando algum médium manifesta espíritos negativos. Ou seja, quando esta manifestação ocorre, devemos amparar o médium com a nossa Toalha cobrindo nossas mãos, para não absorvermos desta energia. Lembrando que a Toalha é pessoal e intransferível. Somente a Toalha do Sacerdote pode ser “emprestada” para o médium que não a possua no momento da Gira.
·         Pano de Cabeça (Ojá): Elemento de proteção da nossa Coroa. Usada nos trabalhos de limpeza de Coroa ou quando estivermos sentindo vibrações complicadas e que se faça necessário proteger a Coroa destas energias, tanto durante a Gira quanto fora dela. Também é pessoal e intrasferível. Cada médium com o seu Ojá.

Adjá

É a ferramenta usada pelo Sacerdote para chamar. Usa-se para chamar a atenção da Corrente para o início da Gira, para chamar o Guia/Orixá para o nosso Plano, etc. É de extrema importância na nossa ritualística, e deve ser obedecido sempre, e imediatamente.

Tambor

O Tambor tem por finalidade alterar a vibração no ambiente, juntamente com os pontos cantados, para que a gente se sintonize com o espiritual. Em outras palavras, também tem a função de chamar, só que de uma forma mais completa. O Tambor, junto com os pontos cantados, nos indica o momento em que o Guia deve se manifestar, com os pontos de chamada, sustenta os trabalhos, com os pontos de trabalho e de demanda, e nos indica o fim da Gira com os pontos de subida.
Apesar de não ser indispensável para os Trabalhos Espirituais, o Tambor é uma grande ferramenta para a manutenção da nossa sintonia com o Espiritual, e merece todo o nosso respeito e reverência.

Fios de Conta (guias)

Nossas guias tem como finalidade principal nos conectar com as energias espirituais. As guias dos Orixás e dos Guias contém as energias deles condensadas ali, e funcionam como uma chave para sintonizar nossos Pontos de Força a estas energias.
Atém disso, temos guias de proteção, que tem a finalidade de repelir determinadas energias. Ou seja, as guias são uma grande ferramenta de manipulação de energia, e requerem muito cuidado, pois a maioria delas ficam em contato direto com o nosso corpo. Estes cuidados são: não deixa-las em qualquer lugar, de qualquer jeito; não coloca-las em contato com elementos alheios à sua finalidade, como dinheiro, cigarro, etc; não leva-las ao banheiro quando formos fazer nossas necessidades; não fumar, beber, ter contatos sexuais, com as guias no pescoço; não compartilhar, emprestar, entregar para que outra pessoa use nossas guias; Protegê-las sempre de contatos externos, quando não estiverem em uso, etc.


Nossa Religião é toda ritualística, e tudo o que fazemos ou utilizamos em nossos rituais é S
agrado. Não vamos nos alongar, pois este texto já está maior do que o habitual. Este é um assunto amplo, que merece ser retomado ainda por várias vezes.
O que é preciso apontar é a necessidade de termos responsabilidade com o nosso Sagrado. A Umbanda nos chama para o trabalho, mas para um trabalho consciente. Maturidade e respeito são as ferramentas essenciais para que não cometamos o erro de profanar (tornar profano, manchar, macular) nossa Religião. Nós somos as mãos usadas para que tudo aconteça no Templo, mas temos parte dessa responsabilidade nas nossas costas! Vamos cuidar do nosso Sagrado, zelar por ele a todo tempo, e não apenas quando nos convém. O nosso Sagrado nos acompanha sempre, e não somente nos dias de Gira. É preciso respeitar e zelar pelos nossos Guias e Orixás a todo tempo; respeitar e zelar pelo nosso uniforme, nossas guias, nossas imagens, nosso Altar, nosso Roncó, enfim, respeitar e zelar pela nossa Religião. Cada um de nós escolheu este caminho para trilhar, e precisamos ter consciência de que escolhemos o caminho completo, com todo o perfume e os espinhos que ele nos traz. Que cada um de nós possa entender e exercer a responsabilidade que é carregar o Sagrado a cada abrir de olhos. Assim, sempre estaremos firmes e sintonizados com toda a Força deste presente Sagrado de Deus para nós; a nossa Umbanda.

Saravá!

Pai Eduardo Salles

  

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