Salve salve, gente boa.
Já tem um tempo que a gente lançou a nossa última dinâmica, e por conta
da complexidade dela e da nossa falta de tempo, não consegui terminar dentro do
nosso prazo. Mas retomando nossos trabalhos, aquela nossa dinâmica teve como
tema o Sagrado. O que temos de Sagrado, tanto em âmbito físico quanto em âmbito
espiritual?
Precisa falar que as respostas foram diversas, engraçadas,
surpreendentes? Acho que não. Realmente é fundamental conhecermos a fundo o que
vivemos. Só somos capazes de desempenhar bem um papel, quando o conhecemos por
inteiro. Mas antes de tentar resumir o que é Sagrado na nossa Umbanda, aos
olhos do nosso TUBA, vamos entender o que significa o termo “Sagrado”:
1.
relativo ou inerente a Deus, a uma divindade, à
religião, ao culto ou aos ritos; sacro, santo.
"liturgia s."
2.
que recebeu a consagração, que se sagrou.
Mas...e qual seria o oposto de Sagrado?
1.
que não pertence ao âmbito do sagrado.
"coisas p."
2.
que é estranho, que não pertence à religião.
"elementos p. penetraram no santuário"
Estas definições se referem ao termo
“Profano”. Ou seja, para entendermos bem os elementos sagrados da nossa
Religião, precisamos entender bem o que significa Sagrado e Profano. Eu não
consigo enxergar elementos profanos na Umbanda. Vejo atitudes profanas, e sobre
elas conversaremos mais adiante.
Para tornar nossa exposição mais
didática, vou separar os elementos em duas categorias: espiritual e físico. Por
“espiritual” eu entendo as coisas que não possuem necessariamente um invólucro
físico. Claro que essa idéia é extremamente simplista. Mas eu tento deixar as
coisas mais praticas e didáticas possíveis. Em conversas posteriores, podemos
nos aprofundar nisso tudo. E como “físico”...acho que dispensa comentários.
Cada categoria terá tópicos, explicando cada elemento sagrado. Bem...sem mais
delongas, vamos lá.
§ ELEMENTOS SAGRADOS ESPIRITUAIS
Deus
Eis
nosso “Elemento Espiritual Sagrado” mais importante. Podemos chamar de Zambi,
Olorum, Tupã, Deus, Pai Maior, Senhor, enfim...vários nomes para caracterizar o
princípio de tudo, a mão que coordena toda essa gigante e complexa máquina
caótica que é a Vida. O dono do início e do fim, mas que não possui início e
nem fim. A força suprema. Onipotente, Onisciente, Onipresente, se reflete para
nós, Umbandistas do TUBA, através de Oxalá, o Orixá da luz e da fé. Em outra
oportunidade, tentaremos nos aprofundar nos Mistérios dos Orixás, mas aqui,
cabe apontar que, como cristão, entendo Cristo como o Filho de Deus,
respeitando todo o Mistério da Trindade, e vejo Oxalá como uma das faces do
Cristo na Terra. Vamos resistir à tentação de escrever sobre o Mistério da
Trindade, de Cristo e Oxalá, e vamos entender Deus como a Força que nos move,
que permite que sejamos instrumentos de algo que está além do que nossos olhos
podem contemplar...que nos permite experiências muitas vezes inacreditáveis, e
faz tudo isso em troca da nossa doação sincera e completa.
Orixás
Os
Orixás são Irradiações de Deus. São forças puras da Natureza, que se alinham a
Espíritos de Alta Hierarquia, que as coordena. Claro que nós, seres humanos
densos, nunca poderíamos receber em nossos corpos a energia pura do oceano, ou
do vento, por exemplo. E nem estamos alinhados para receber em nossos corpos os
Espíritos de Alta Hierarquia que as coordenam diretamente. Mas então, o que
recebemos no Terreiro, afinal?
Como
tudo no mundo espiritual é extremamente organizado, por mais que nossos olhos
limitados vejam o caos, esta hierarquia espiritual dos Orixás se desdobra até
uma vibração “aceitável à nossa realidade”. Este desdobramento também seria um
excelente tópico para conversas futuras. O que vale para nós neste momento é
que cada Orixá possui sua falange, que se desdobra em subfalanges, até nos
alcançar sem danificar a nossa densidade. Como partes da Natureza, cada um de
nós traz em si a força de todos os Orixás, sendo que algumas se sobressaem a
outras, de acordo com a nossa Missão nessa vida. Isso faz com que sejamos
filhos de Xangô, ou de Ogum... Isso na realidade significa que a energia de
Ogum se sobressai na vida de um filho seu, influenciando sua personalidade,
suas dificuldades na vida, suas habilidades, etc.
Cada Orixá tem sua morada em pontos de força
na Natureza, relacionados à energia que coordena. Com isso, os Orixás, força
espiritual fundamental para o mecanismo de funcionamento da Vida, nos olhos da
Umbanda, são “elementos espirituais sagrados” para nós, tanto quanto os pontos
de força em que habitam.
Energia
Ué...energia
é sagrada? Como assim?
Energia
é o elemento primordial de toda a estrutura da nossa Religião. Na verdade,
energia vai muito além do que a Umbanda nos ensina. Mas, para não nos
prolongarmos mais do que gostaríamos, vamos ficar só no âmbito espiritual da
coisa.
Os
Orixás são essencialmente, energia. Recebemos no Terreiro Espíritos Falangeiros
de Orixá, que são Espíritos que manipulam estas energias em nós e no mundo. Os
Guias são Espíritos que se enquadram em estereótipos para manipularem energias
específicas. Nossas guias são condensadores de energia, com a finalidade de
atrair ou repelir determinadas energias. Nossos pontos de força são
condensadores de energia. Nosso defumador é um dissipador de energia. Nosso
corpo precisa de energia tanto no físico quanto no espiritual para se nutrir. Nossa
Aura, na verdade é o nosso campo energético; e este campo energético precisa
estar o mais equilibrado possível para que as manifestações espirituais sejam
satisfatórias. Resumindo o enredo, tudo na Umbanda gira em torno do cuidado e
da manipulação de energias. Isso, repito, somente no âmbito espiritual. No
âmbito físico (não resisti...rs), a ciência nos ensina que toda a matéria é energia
condensada. Ou seja: velas, sementes, contas, frutas, óleos, essências, flores,
ervas, fitas, etc., tudo possui energia condensada, passível de manipulação
pelo espiritual. Então, energia, para nós, é mais que sagrada...é
imprescindível.
§
ELEMENTOS
SAGRADOS FÍSICOS.
Para começar, precisamos retomar o que significa
“físicos” aqui pra nós. Como físico, eu entendo que são os elementos no físico,
que possuem uma importância espiritual. Dito isso, prossigamos:
Altar
Vamos começar pelos pontos de
força. O Altar, ou Congá, ou Gongá, é um dos principais pontos de força do
Terreiro. Possui toda a Coroa Espiritual do Terreiro. É onde se encontram os
elementos de todas as Linhas da nossa Casa, de onde e para onde correm toda a
energia da Gira.
É um dos pontos de força mais importantes, pois tem como função, além
de nos doar e receber de nós energia, equilibrar a Coroa dos médiuns. O ritual
de “bater cabeça”, por exemplo, tem um significado muito bonito, que consiste
no médium “entregar” sua Coroa para que esta se sintonize com a Coroa da Casa.
Quando fazemos o ritual de bater cabeça antes de iniciar a Gira, estamos
entregando a nossa Coroa, confiando nas Energias que regem a Casa, para que
nada nos aconteça que esteja fora do permitido pela Coroa da Casa. É um ritual
que deve ser feito com o máximo de respeito, sempre que o médium sentir algum
desequilíbrio ou vibração desconhecida, no momento da Gira. Com isso, devemos todo
o respeito e reverência ao nosso Altar.
Porteira
A Porteira é o ponto de força responsável pela proteção do Terreiro. É
onde firmamos os Exus responsáveis pela entrada e saída de espíritos, que
seguram as demandas, que coordenam os Exus dos médiuns. Como ninguém gostaria
de ficar desprotegido, principalmente em se tratando de questões espirituais,
onde poucos de nós vemos o que acontece, nossa Porteira deve ser tratada com
todo o respeito e reverência.
Roncó
O Roncó é o ponto de força onde a Coroa dos médiuns é tratada de forma
individualizada. É onde se encontram as proteções destas Coroas. É a parte mais Sagrada do Terreiro. Mesmo que simples no material, possui tremenda importância
espiritual. Somente por ser o local onde firmamos nosso Anjo da Guarda, já
merece todo o respeito e reverência.
Roupa Branca
Nossa roupa branca, ou roupa de santo, é o nosso instrumento de
trabalho. Quando pisamos no Terreiro e colocamos o branco, a espiritualidade
entende que estamos prontos para trabalhar. O curioso é que esse trabalho não
acontece somente quando a Gira abre, mas assim que pisamos no Terreiro e
colocamos o branco! Por este motivo, TUDO que for feito dentro do Templo, para
o Templo ou para os trabalhos que ali acontecerão, devem ser feitos com o nosso
uniforme. Desde varrer o chão do salão a preparar um Maleme.
Além disso, deve-se apontar a importância de termos alguns cuidados com
o nosso uniforme. Ele deve estar sempre limpo, bem apresentável, deve ser
discreto, sem decotes e transparências, etc. O recomendável é que se lave em
separado da nossa roupa cotidiana.
Então, para os homens: Calça branca, blusa branca, ou jaleco branco.
Para as mulheres: Calça branca, saia branca por cima da calça, blusa branca ou
jaleco branco.
Ainda sobre o nosso uniforme, vale ressaltar a importância de dois
elementos muito importantes dentro da nossa ritualística:
·
Toalha: Utilizada para batermos cabeça,
cobrirmos alguns Orixás no momento da manifestação, e para nos proteger de
cargas negativas, quando algum médium manifesta espíritos negativos. Ou seja,
quando esta manifestação ocorre, devemos amparar o médium com a nossa Toalha cobrindo
nossas mãos, para não absorvermos desta energia. Lembrando que a Toalha é
pessoal e intransferível. Somente a Toalha do Sacerdote pode ser “emprestada”
para o médium que não a possua no momento da Gira.
·
Pano de Cabeça (Ojá): Elemento de proteção da
nossa Coroa. Usada nos trabalhos de limpeza de Coroa ou quando estivermos
sentindo vibrações complicadas e que se faça necessário proteger a Coroa destas
energias, tanto durante a Gira quanto fora dela. Também é pessoal e
intrasferível. Cada médium com o seu Ojá.
Adjá
É a ferramenta usada pelo Sacerdote para chamar. Usa-se para chamar a
atenção da Corrente para o início da Gira, para chamar o Guia/Orixá para o
nosso Plano, etc. É de extrema importância na nossa ritualística, e deve ser
obedecido sempre, e imediatamente.
Tambor
O Tambor tem por finalidade alterar a vibração no ambiente, juntamente
com os pontos cantados, para que a gente se sintonize com o espiritual. Em
outras palavras, também tem a função de chamar, só que de uma forma mais
completa. O Tambor, junto com os pontos cantados, nos indica o momento em que o
Guia deve se manifestar, com os pontos de chamada, sustenta os trabalhos, com
os pontos de trabalho e de demanda, e nos indica o fim da Gira com os pontos de subida.
Apesar de não ser indispensável para os Trabalhos Espirituais, o Tambor
é uma grande ferramenta para a manutenção da nossa sintonia com o Espiritual, e
merece todo o nosso respeito e reverência.
Fios de Conta (guias)
Nossas guias tem como finalidade principal nos conectar com as energias
espirituais. As guias dos Orixás e dos Guias contém as energias deles
condensadas ali, e funcionam como uma chave para sintonizar nossos Pontos de
Força a estas energias.
Atém disso, temos guias de proteção, que tem a finalidade de repelir
determinadas energias. Ou seja, as guias são uma grande ferramenta de
manipulação de energia, e requerem muito cuidado, pois a maioria delas ficam em
contato direto com o nosso corpo. Estes cuidados são: não deixa-las em qualquer
lugar, de qualquer jeito; não coloca-las em contato com elementos alheios à sua
finalidade, como dinheiro, cigarro, etc; não leva-las ao banheiro quando formos
fazer nossas necessidades; não fumar, beber, ter contatos sexuais, com as guias
no pescoço; não compartilhar, emprestar, entregar para que outra pessoa use
nossas guias; Protegê-las sempre de contatos externos, quando não estiverem em uso, etc.
Nossa Religião é toda ritualística, e tudo o que fazemos ou utilizamos
em nossos rituais é S
O que é preciso apontar é a necessidade de termos responsabilidade com
o nosso Sagrado. A Umbanda nos chama para o trabalho, mas para um trabalho
consciente. Maturidade e respeito são as ferramentas essenciais para que não
cometamos o erro de profanar (tornar profano, manchar, macular) nossa Religião.
Nós somos as mãos usadas para que tudo aconteça no Templo, mas temos parte
dessa responsabilidade nas nossas costas! Vamos cuidar do nosso Sagrado, zelar
por ele a todo tempo, e não apenas quando nos convém. O nosso Sagrado nos
acompanha sempre, e não somente nos dias de Gira. É preciso respeitar e zelar
pelos nossos Guias e Orixás a todo tempo; respeitar e zelar pelo nosso
uniforme, nossas guias, nossas imagens, nosso Altar, nosso Roncó, enfim, respeitar
e zelar pela nossa Religião. Cada um de nós escolheu este caminho para trilhar,
e precisamos ter consciência de que escolhemos o caminho completo, com todo o
perfume e os espinhos que ele nos traz. Que cada um de nós possa entender e
exercer a responsabilidade que é carregar o Sagrado a cada abrir de olhos.
Assim, sempre estaremos firmes e sintonizados com toda a Força deste presente
Sagrado de Deus para nós; a nossa Umbanda.
Saravá!
Pai Eduardo Salles
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